segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

"A Arte em Moçambique", na visão colonial de 1966 - Parte IV


Vice-Almirante Sarmento Rodrigues
(Fonte da imagem: Site da Biblioteca Nacional)

O Vice- Almirante Sarmento Rodrigues foi Governador da Guiné, Ministro das Colônias, quando da reforma administrativa de 1951 passou a Ministro do Ultramar e depois Governador Geral de Moçambique no período de 1961 a 1964.
Lembro-me que o meu Pai tinha certo respeito pela pessoa Sarmento Rodrigues, mesmo que representassem naquelas épocas linhas ideológicas um tanto adversas. Houve um episódio na história do jornalista GL, quando o mesmo estava totalmente envolvido com a fundação do jornal “A Tribuna”, sem salários em dia, metido em dívidas, que o então Governador Geral de Moçambique, o Vice Almirante Sarmento Rodrigues, a mando de alguém, oferece-lhe um cargo de diplomata no Malawi como uma forma clara de afastar o GL da empreitada de fazer acontecer um jornal independente que prometia cutucar o sistema de então. A resposta foi imediata e clara: Diga a “eles” que não aceito, e que não me vendo nem à direita e nem à esquerda... Mas, Sr. Gouvêa Lemos, é isso que lhes devo dizer? Ao qual GL, retrucou: Se é isso eu não sei, mas que é isso que eu estou lhe dizendo, é!


Mas voltando ao livro “A Arte em Moçambique”, na visão colonial de 1966, aproveitou o autor do mesmo uma colocação do Sarmento Rodrigues, transcrita na obra, para desenvolver um pouco mais o seu raciocínio:

Mãe Pátria

Nativo que sou da Europa, o meu espírito não está preso a nenhum Continente, porque se formou na consciência de uma Pátria de muito maiores dimensões.

Sarmento Rodrigues


Mãe Pátria, transcendente expressão que abrange as terras de Portugal, que consubstancia a sua unidade intrínseca e melhor define os laços morais e afectivos entre portugueses – seus filhos!... É identidade indestrutível de sangue que através de séculos, prende no mesmo corpo, o Minho ao Algarve, a Guiné a Timor...
O espírito filial é semente que aqui se desenvolve e fortifica continuamente...
Mãe Pátria não é, pois, simples expressão vernácula, embora de forte e significativa ética, mas algo menos consentâneo com alheamentos ou abdicações da menor de quaisquer das suas parcelas, porque representa a materialização dessa consangüinidade eterna, na carne da mesma carne e no espírito do mesmo espírito.
Por isso, nenhum português não se considera verdadeiramente nativo da terra onde nasceu ou se criou, mas filho de uma Pátria de muito maiores dimensões, que se chama Portugal.

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