quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Suíça - A Neutralidade ou os interesses comerciais? - Parte I

Por António Maria Gouveia Lemos


A bandeira suíça com a sua cruz branca sobre fundo vermelho, em muitos cantos do mundo, é confundida com a bandeira que simboliza a neutralidade em tempos de guerra, da Cruz Vermelha. No entanto, as confusões de cores e real significado da palavra neutro, deveriam parar por aí, para não pecarmos por inocência ou hipocrisia diplomática.


É lógico que politicamente, se compararmos a Suíça com outros países, sem dúvida que ela até se propõe muito mais vezes a pôr água na fervura, do que lenha na fogueira. No entanto se analisarmos a história comercial desta confederação pacífica, com quatro povos e idiomas oficiais, concluiremos que a ponte entre os valores éticos e morais e os interesses comerciais, de tanto esticada, está feito um cabelo prestes a se quebrar.

Não vou nem entrar na mais do que falada, escrita e muitas vezes exageradamente formulada, tese do ouro dos Judeus da Segunda Grande Guerra. Pois sem querer desculpar erros passados, também cometidos na Suíça, esse ouro foi muito bem repartido por vários países "neutros" como Portugal, Argentina, Brasil, os aliados vencedores, etc. Afinal todos sabemos que da Suíça os massacrados e perseguidos judeus tiveram que atravessar muitos outros países até chegarem e "comprarem" um lugar seguro, nos quatros cantos do mundo. Enfim, todos e mais variados sanguessugas de ocasião, que enchem a história mundial até os dias de hoje com os imigrantes africanos afogados no mar mediterrâneo, prontos a ganhar com a desgraça alheia, ganharam o seu quinhão naquela época. Verdade seja dita, nem todos souberam utilizar e investir como a Suíça do pós-guerra soube, o que é ponto positivo para a mentalidade Suíça.

Como disse antes, não vou entrar por aí, pois de tanto se falar, não há ouvido de ouro que agüente escutar mais tal ladaínha.

Mais interessante seria se a esquizofrenia da imprensa e advogados de qualidade e profissionalismo duvidoso do mundo, tivessem se concentrado nos valores de exportação de armas da Suíça entre 1940 e 1944. Aí teriam percebido que 85% foram exportadas para os países sob o domínio de Hitler e 16% irmamente divididos para os países aliados. Ou seja, como neutros, estava a Suíça bem aliada ao Eixo Nazista. (de acordo com a Comissão Independente Suíça, chefiada pelo profundamente conhecedor da matéria e auto-crítico nacional, senhor Peter Hug; Os valores exportados nesse período variaram entre os 751 milhões e um bilhão de francos suíços.)

Mas deixemos os erros passados, pois depois que passou, todos são doutores e "experts" e sabem qual teria sido a melhor cura. Concentremo-nos no presente desta tão diferente e paradoxal confederação Helvética. A política nacional de hoje, dá muito o que pensar, sobre a História Suíça que leremos no futuro.

Os socialistas, a maioria do governo federal, cada vez mais perdidos no seu discurso intelectual e sem conseqüência de atitudes, gostando muito de escutar a sua própria voz, não percebem que já não falam a língua e ideologia da grande massa social que os elegeu. O dedo indicador para um lado, os olhos para o lado oposto.

Os esquerdistas fiéis á utopia, querem o pão e o tostão. Entrar para a Unidade Europeia e ONU sim, responsabilidade para decidir por Paz ou Guerra e enviar soldados, não!

Os partidos de direita, querem o pão, a padaria e o contar das moedas, sem sujar a mão na farinha. Usam a possível perda da "amada Neutralidade", como Porta Bandeira e argumento para não entrarem no desfile da Comunidade Europeia e ONU. E ao mesmo tempo exigem o direito de continuar defendendo os seus interesses comerciais em países ditatoriais.

Como se a Neutralidade - uma abstracta irmã gémea da Mãe Helvética - lhes desse direito de vender o cassetete, mostrar como se usa, curar o ferido, mas não pôr a cabeça para testar a paulada.

Resumindo, se defende o direito da Suíça continuar neutra, não tomar posições políticas e militares a nível internacional, (como no caso da ex- Iuguslávia ou Afeganistão), mas poder exportar armas, tanques e aviões.

Armar sim, entrar com a sola dos soldados nas guerras em que está militarizando, não!

(Continua...)

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