segunda-feira, 23 de julho de 2007

A hospitalidade carioca continua no Rio!


Além do gesto antipático, mas democrático, das vaias ao Presidente da República do Brasil, o Lula, na abertura do Pan 2007, viu-se a torcida envolvida em confusão uma única vez , quando da desclassificação da judoca brasileira Erica Miranda que disputava com uma atleta cubana, e que pelo o que os entendidos dizem parece que foi mesmo injusto o juíz. De qualquer forma não se pode concordar com a reação do público quando começou a atirar objetos para a área de luta e muito menos ao virar as costas quando o Hino Nacional de Cuba foi tocado na entrega das medalhas.

O contacto saudável entre torcedores que o António diz ter vivido na Alemanha, também percebe-se nestes jogos que se realizam no Rio de Janeiro. Além deles, recentemente vivemos no futebol, a grande paixão dos brasileiros, a Final da Copa América entre Brasil e Argentina, rivais de sempre, onde históricamente houveram grandes batalhas campais entre jogadores e torcidas. Mas felizmente isso não é como antes, principalmente depois que jogadores sul-americanos passaram a conviver em campeonatos europeus, jogando nos mesmos clubes ou indo às mesmas festas. E isso passou para a torcida. Nesta final de campeonato de que falo, eu e a minha mulher assistimos em casa de um casal amigo onde a esposa é argentina e fomos para lá convencidos que seríamos derrotados. Nesse mesmo horário a minha filha e o namorado, com os seus amigos, foram para um barzinho onde se juntam grupos enormes para verem jogos de futebol em telões. Nesse jogo havia presente também representantes da torcida argentina, inclusive empunhando a bonita bandeira argentina. Se a maioria era de torcida brasileira, a maioria acreditava na derrota da Canarinha, mas na vitória brasileira houve sim a festa, com as gozações naturais mas sem os conflitos que em décadas passadas com toda a certeza apareceriam. É claro que pontualmente ainda existem conflitos entre torcedores brasileiros e países vizinhos, talvez não tão fortes como os que vimos acontecer entre os hooligans europeus, que ainda na Copa da Alemanha vimos o mau exemplo de uma minoria deles de nacionalidades alemã e inglesa a criar grande confusão em um grande conflito entre os dois grupos.

Já sobre o envolvimento de pessoas diretamente ligadas ao esporte, neste caso ao judô brasileiro e cubano, se envolverem ao tapa e murros, não há o que dizer. Não interessa aqui levantar se foram os cubanos que começaram primeiro a falar o que não deviam ao reagir à atitude da torcida, ou se foi um de uma das federações estaduais brasileira que jogou um caderno para a tribuna dos cubanos primeiro.

Bom mesmo foi depois ver as atletas brasileiras e cubanas, junto com os seus treinadores e outros componentes das equipes, entrarem de mãos dadas no ginásio e levantarem as mesmas, sem as largar um dos outros, para o público, e este público agora sim, reagir efusivamente e positivamente com aplausos e assobios de arrepiar qualquer cidadão do mundo. Outra coisa muito boa de ver, foi a reação rápida da Confederação Brasileira de Judô de afastar os quatro dirigentes identificados no tumulto. Para ficar melhor só sabendo que a Confederação de Cuba tomasse a mesma decisão com os seus.

Sobre a “breguice” e um possivel nacionalismo de se cantar o Hino Nacional durante o decorrer uma disputa, isto não vem acontecendo só no judô mas também em outras disputas. Breguice? Talvez, mas um conceito subjetivo. Nacionalismo mal colocado? Discordo! O hino neste caso surgiu como mais uma canção de uma torcida, esportivamente falando, apaixonada, e que canta o Hino não muito mais emocionada do que quando canta: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!” Quando ela canta esta última ou o Hino (parcial) durante um jogo, não tem nada de xenofobia ou nacionalismo. Tem sim uma torcida, torcendo muito por uma das suas seleções ou pelos seus atletas.

Sobre um Nuzman que eu já admirei mais e a sua colocação, “Boa sorte Brasil”, ele ainda teve tempo de consertar e completar com o “Boa sorte Américas”, embora não tivesse saído com a mesma naturalidade, é certo. Mas sem defender a figura, me parece que a "boa sorte" estava mais direcionada para a organização do evento e a imagem que o mesmo poderá dar ao país do que o desejo de vitória nos jogos em si. Até porque o mesmo tem o rabo preso nesta organização e na campanha para organizar-se aqui uma Olimpíada.
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Às 22:30hs de 24/7, lendo uma notícia que em parte acaba dando razão ao que o António Maria questiona, não pude deixar de aqui deixar o link: Com vergonha da torcida, brasileiro culpa vaias por mau resultado. Ainda assim,sem querer ser o teimoso da história, e talvez já sendo, não mudo a essencia do que escrevi neste post, até em parte respaldado pela própria notícia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mano ZP, é bom saber que a Democracia e liberdade de opinião é executada com respeito, já dentro da nossa casa.
Achei o teu artigo bom e com pontos de razão, mas confesso que te vejo um pouco envolvido emocionalmente na febre canarinha.
Afinal se aqui se sabe, tu sabes também que não foi só com os cubanos que... O handebol masculino seria sô mais um caso a contar em que houve um comportamento agressivo do público e/ou membros da delegação brasileira. (E que se nas ruas quem vencer o Brasil sair a festejar...)
Sem dúvida está sendo uma festa bonita, mas temos muito que aprender para merecer ser anfitriões de uma festa a nivel mundial.
Na China por exemplo - onde o nacionalismo foi sempre uma base do sistema político - em preparo das próximas olimpíadas existem campanhas governamentais rolando á dois anos na mídia, custando muitos $$$. Esclarecendo hotéis, restaurantes, bares, enfim o povo, sobre costumes e cultura dos países visitantes. Fortalecendo assim a arte de bem receber, mostrando quem vem lhes visitar. Mais do que medalhas, (com muito dopping chines:-), a China quer usar a Olimpiada para mostrar um outro lado deles. Uma imagem amiga e de"flair play" ao mundo exterior. (A propósito, estão trocando experiências com os responsáveis de marketing e mídia em geral, das campanhas alemãs da ultima copa.)

Beijos

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

:)
Febre canarinha é muito! Na torcida pelos atletas e por uma boa organização do Pan, sem dúvida. Mas sempre buscando a imparcialidade.
No handebol, tanto a torcida como os dirigentes foram impecáveis na briga quase generalizada entre jogadores das duas seleções (de novo Brasil e Argentina, para não variar). Em um ginásio fechado a torcida não se envolveu, o que em outros tempos não seria assim, e os dirigentes da seleção brasileira interferiram imediatamente como o grupo do "deixa disso". E se houve outros casos, além do judô, onde tenham envolvido torcida e dirigentes, desconheço. E te afirmo, mano Tó, que as torcidas andam sim uniformizadas pelo Rio de Janeiro em plena harmonia e o Brasil não está ganhando tudo. É só dar uma olhada no quadro de medalhas. Mas devo concordar que se há mais respeito por parte da torcida brasileira para com os outros, e nesses outros falo em especial Argentina, Paraguai e Uruguai (que os conflitos esportivos são em muito consequências babacas de conflitos políticos do antigamente, é também recíproco o respeito maior atual por parte das torcidas destes países vizinhos. Já com Cuba, o conflito das torcidas começou há umas décadas atrás com o vólei e que acabou passando para outros esportes, em especial no basquete femenino.
Sobre o trabalhar a recepção de turistas e torcidas para eventos deste porte ou de uma Olimpiada, também houve algo similar no Rio, mas creio que ainda há muito o que melhorar cá por estes lados.
Um beijo.