segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Colonialismo à portuguesa e à inglesa...


Em 14 de dezembro de 2004, escrevi em um antigo blogue, o "Sem Técnica", o texto que fui buscar para aqui o reproduzir. É que a semana passada o tema acabou, quase que três anos depois, por surgir novamente no ambiente de trabalho... ou nas consciências do planeta?
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Dizia a legenda da foto: Foto de Ricardo Rangel (para mim e para muitos, o Papa da fotografia moçambicana)
Hoje, no horário de almoço, colegas de trabalho me perguntaram qual a diferença entre o colonialismo inglês e o português em África, e qual teria sido o pior. O pior, não consigo exactamente dizer qual, afinal antes deveríamos relacionar quais as referencias para fazer tal avaliação. Possivelmente chegaríamos a várias conclusões para no final chegar a um consenso; Colonialismo é colonialismo, é estar na terra dos outros e ainda defender teses de que se está certo e foi um bem para a humanidade e ainda entrar na "justificativa" do contexto do momento histórico. Mas, para exemplificar uma diferença clara entre uma colônia inglesa que todo o brasileiro conhece, que é a África do Sul, e uma portuguesa, no caso Moçambique, que era a um moçambicano a quem pediam a sua opinião, lembrei-me de uma fortografia do grande reporter-fotográfico moçambicano Ricardo Rangel, tirada na década de sessenta. Vim rápidamente a casa imprimir a mesma para a levar ao escritório. Mostrei a foto aos mais interessados no assunto e perguntei se já tinham ouvido falar na legislação de segregação racial (apartheid) da antiga África do Sul. Todos conheciam. Disse-lhes então que em Moçambique a segregação nunca foi tão formal, oficial, tirando alguns excessos como a questão dos assimilados (usando o Séc. XX como referência). Por outro lado, em Moçambique, acontecia o que se via naquela fotografia, banheiro para Serventes e outro banheiro para Homens (na foto não se via mas com toda a certeza também havia banheiro para Mulheres). Alguém mais rápido no gatilho, perguntou-me se havia, na altura, em Moçambique serventes brancos. Tive que responder que não me lembro de ter visto nenhum. Se havia estava com toda a certeza na exceção que existe em toda a regra, e ainda tenho dúvidas qual seria o banheiro que usaria nesse caso. Era a segregação sem leis. Mas nem eu consegui concluir e muito menos opinar qual delas era pior, a segregação sem leis ou com leis...dependia do contexto e para alguns, dos interesses.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ainda há brasileiros que teem pena não terem sido colonizados pelos EUA, em vez de ser por Portugueses...Claro que tambem são descendentes de portugueses como muitos moçambicanos...Mas claro que é do tipo de discussão em que não se sai do mesmo sítio...

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Anônimo,
Creio que quando voce falou na possibilidade do Brasil ter sido colonizado pelos EUA em vez de por Portugal, falava da possibilidade de ter sido o Brasil colonizado pela Inglaterra. Assim o exemplo de colonização ficaria parecida com o que se viu na África do Sul ou mesmo nos EUA...O que se pode ter a certeza é que se a globalização, que começou no tempo dos "descobrimentos" trouxe alguns benefícios, qualquer tipo de colonização trouxe junto alguns malificios. Exemplo similar entre o Brasil (colonização portuguesa) e os EUA (colonização inglesa)? Quem menos tirou proveito da independência destes hoje países foram os povos nativos, no caso os indios norte e sul americanos, e os que mais vantagens tiraram foram os colonizadores ou descendentes dos mesmos, no caso os portugueses e ingleses.
Um abraço para si e obrigado pela participação.

Anônimo disse...

Desculpe, corrigir a sua interpretação da minha escrita:eu não quiz dizer nem inglaterra nem EUA.Eu só disse aquilo mesmo. Claro que brasileiros a falar em EUA, só ouvi ao "povão", em mesa de café, dentro daquela "colonização" cultural e economicista Estadunidense, que existe em quase toda américa do sul...que provocou anti-virus tipo Fidel, Ché, etc...mas alem desse povão, periodicamente se discute nos media, se não seria melhor com os holandeses, ou franceses, ao menos espanhois...portugas é que foi um azar.
Ainda tenho na memória de uma "boca" de Caetano Veloso, muito apreciado em Portugal, que os portugueses no brasil apenas exploraram os indios e não fizeram nada...Claro que o brasil actual não tinha o problema de ensinar a vestir calças a umas tantas tribos, no século em que se vai à lua se os portugas tivessem colonizado à inglesa...eis a principal diferença...Outra diferença entre norteamericanos e america latina, é aquela em que jamais se ouve aos americanos que os ingleses mataram escravizaram...esfolaram, antes pelo contrário, eles assumem-se como responsáveis por tudo o que aconteceu na terra deles, evidentemente tambem do que é favorável à imagem deles.
Agora, para a minha "cultura geral" já que mais não seja para quando faço palavras cruzadas (tenho 68 anos), e para sua curiosidade, foi-me transmitido por um velho colono de angola, a propósito de conceito de descriminações raciais, que existia uma postura ou decreto ou coisa deste género, nos governos coloniais, por volta 1900, que rezava mais ou menos:" Nas repartições públicas não podem entrar cão nem preto descalço".
Continue...não pare.

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Anônimo,
Sobre esta resolução / decreto, ou como queiram classificar, de 1900 em Angola; "Nas repartições públicas não podem entrar cão nem preto descalço"., pessoalmente não ouvi falar do tal decreto, que só pela relação entre um animal de 4 patas e um ser humano já classifica uma postura animalesca de quem cria uma norma dessas, mesmo que se esteja a falar do Séx. XVIII / XIX.
Sobre a questão dos brasileiros, pelo menos uma parte deles, não assumirem que eles eram os próprios portugueses que "executaram" a colonização e depois a conquista da Independência, é uma verdade e me parece ser uma questão cultural herdada de alguns de nós, lusitanos. Afinal é só percebermos a recente história das colonizações tardias das ex-utramarinas e os erros que lá foram cometidos e que grande parte do povo português, inclusive dos que lá viveram e que deveriam, desde que de forma imparcial, perceber que o sistema criava e induzia a manter grandes diferenças entre os descendentes europeus, e mesmo asiáticos, e os descendentes africanos, com alguns panos quentes através de conceitos que um dia foram classificados de "indíginas assimilados". Essa cultura lusitana de não aceitar que erra, que errou, ficou sim dentro dos portugueses que um dia passaram a ser brasileiros e que culturalmente vem se mantendo no decorrer dos tempos...mas felizmente até que vem o povo brasileiro a ficar menos bloqueado e a começar a entender o mundo um pouco diferente.
Não podemos também deixar de levar em conta as ditaduras que este país conviveu por décadas, onde se vendeu sempre que os EUA eram os heróis do planeta, e um povo estratégicamente mal instruído passa acreditar e depois convencer que não há Pai Natal fica difícil.
Sobre uma ou outra colocação sobre possibilidade de uma colonização holandesa ou francesa, é mutio pelas obras que se vêem nas regiões ondes estes dois países criaram mais raízes quandos das invasões dos mesmo no tempo do Brasil colônia, sem maiores avaliações cientificas. Mas também não é a maioria do brasileiro que coloca a possibilidade de uma colonização inglesa, francesa ou mesmo holandesa como se tivesse sido uma melhor alternativa para o país.
Os meus cumprimentos.