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sábado, 1 de novembro de 2008

World music by Moçambique...Stewart Sukuma

Moçambique é mesmo maningue nice! E o Sukuma transpira a simpatia do povo moçambicano nos seus clips e nos seus shows..

Fico pensando cá comigo como a música e os músicos moçambicanos são pouco trabalhados no mercado brasileiro. Duvido que um Sakuma, na mão de um competente organizador de eventos nestas terras "brasis", com um bom trabalho de divulgação, não encha umas boas casas de espetáculos nas principais capitais deste país, que tanta ginga africana tem. Diria o mesmo para a divulgação e comercialização da música moçambicana em CD /DVD.


Moçambique......................... Wulombe (em dupla com Elizah)


Felizminha (Ao vivo)...............Ginani/Muliba (Ao vivo)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

José Craveirinha

A vantagem de se ter pessoas como Craveirinha que passam pela nossa vida, é poder relacionar a sua obra que fica para todo o sempre com o que nós o conhecíamos como um "simples" mortal.

Craveirinha ou o Tio Zé, tinham uma imponência que chegava a me assustar na minha adolescência. Era tão grande esta, quanto era a meiguice do casal Zé e Maria quando nos recebiam na sua casa na Mafalala.

Ao descobrir este vídeo no Youtube foi uma emoção limpa de tristezas. Foi um recordar de parcerias e cumplicidades de verdadeiros companheiros, ou chapas, como se tratavam na altura, como os exemplos que ele e o meu "velho" Pai me deixaram.

Moçambique no programa Revista Brasil

sábado, 18 de outubro de 2008

Lula em Maputo


O meu Presidente brasileiro esteve no meu Moçambique, a terra que me viu nascer.
Em reunião com o Presidente moçambicano, Guebuza, o brasileiro Lula reclamou, na frente das câmaras e repórteres, da diplomacia brasileira, a qual estava ali representada pelo seu Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, pela ainda não implantação da fábrica de medicamentos contra a Aids / Sida. Investimento que representa uma doação do governo brasileiro para Moçambique de uma quantia de 10 milhões de dólares, e que no teatrinho promovido pela diplomacia brasileira, com a justificativa do Celso Amorim que a demora (já lá vão 5 anos quando Lula esteve em Moçambique em 2003 e prometeu esta fábrica) se devia a um estudo sério para a instalação desta, ambos esqueceram de dizer que esta quantia a ser doada ainda tem que passar pelo crivo do Congresso brasileiro.
Talvez os atores momentâneos digam que a proposta da doação ainda não tenha sido levada para o Congresso devido ao projeto sério que fez que até então a promessa não tenha saído de um projeto de governos.
E é bom que seja de fato um projeto muito sério, para que seja implementado de forma sólida, com um conceito diferente como o habitual, quando parte do primeiro mundo, de se estar a enviar remédios para países menos favorecidos, e sim instalar neles tecnologia de ponta para que os próprios possam produzir e um dia deixarem de ficar dependentes de remessas eventuais e dependentes de liberações dos Congressos dos países doadores.
E falando em seriedade, é uma ótima notícia saber que se está abrindo um escritório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Moçambique. Não está claro para mim, além do aparente apoio na implantação da fábrica, quais os objetivos desse escritório, mas se dele iniciar-se uma troca de conhecimentos, e até mesmo de material de pesquisa, Moçambique pode ter a certeza que está abrindo as portas para uma instituição de pesquisa voltada para a saúde pública de grande gabarito, o que só poderá trazer grandes resultados benéficos para esta parceria.
Sei também que acompanharam a comitiva do Lula empresários brasileiros com interesses no comércio entre os dois países, mas não consegui obter informações em que áreas estariam ligados estes e como evoluiu o encontro dos mesmos com os empresários moçambicanos. Alguém poderia me matar esta curiosidade?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Moçambique - 25 de Setembro


Não festejo o início de tiros, por mais nobres que sejam os conceitos que estejam atrás da culatra. Festejo sim o fim deles, ainda mais quando representam a autonomia de uma nação.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Série "Moçambique – O meu Setembro de 1974"


Última Parte



Ao acordarmos, já no dia 11 de Setembro, o Dr. Arouca já conversava com o grupo, e parecia que todos estavam mais calmos. Ele veio ao nosso encontro e disse para a Mãe que podíamos ir ter com o motorista a Maxixe e partirmos para Lourenço Marques.


A esposa, antes de nos deixar nas barcas, foi nos mostrar algumas das próximas e belas praias da região.


Fizemos um lanche reforçado já em Maxixe, e partimos logo em seguida para a estrada. Trocamos informações com o nosso já mais amigo do que motorista. Lembro-me que a Mãe ficou um tanto admirada pelo mesmo conhecer, por nome, dizia ele, o advogado Dr. Arouca.

A viagem prosseguiu sem mais sobressaltos, até que ao entrarmos em LM, já ao Pôr do Sol, nos defrontamos com uma barreira do Exército português. Pediram-nos para sair, e em quanto um nos fazia perguntas, outros revistavam o VW... quando menos esperava, uma rajada de tiros vindo de uma metralhadora G3! Quando me vi, já estava dentro do carro, abaixado entre o encosto do motorista e do banco de trás. Ao espreitar entre os dois bancos para o vidro da frente do carro, percebi algumas penas voando, e ouvi a voz da minha Mãe a chamar a atenção do responsável por aquele grupo de militares, pela atitude irresponsável daquele soldado!

Em uma revoada de um grupo de pombos, um alferes, que devia estar a festejar alguma frustração, lembrou-se, como se tivesse aos “tiros aos pombos”, de matar o que são o símbolo da Paz!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Série "Moçambique – O meu Setembro de 1974"


Parte IV


Quando o dia começava a clarear, já no dia 10 de Setembro, como se o Sol nos protegesse, fomos até Maxixe, onde a minha Mãe pediu um quarto para ela e para mim e um outro para o motorista. De novo, o motorista preferiu ficar acomodado no carro. Queria de alguma forma qualificar um distanciamento, talvez para se proteger e para nos proteger.

Dormimos umas horitas, antes do almoço. Quando acordei, a Mãe já havia definido a nossa travessia nas barcas para Inhambane, para irmos ao encontro do Dr. Domingos Arouca, advogado, antigo companheiro do Pai. Ali ela sabia que teria informações mais reais do que se passava, e tentaria contactar os nossos em Lourenço Marques.

Chegamos a Inhambane logo depois do almoço, e fomos diretos ao escritório do “Correspondente do Notícias da Beira”, em Inhambane, que lá estava alguém que nos levaria até à residência do Dr. Arouca.

Ao chegarmos à casa do casal Arouca, uma imagem impressionante que me marcou para o todo sempre. Uma imensidão de gente, sentada ao redor da casa, ouvia o Dr. Domingos Arouca a falar, não em português, provavelmente em alguma língua bantu. Foi impressionante, pois se a reunião de tanta gente já é marcante para uma situação que atravessávamos, a postura de liderança que ali presenciei foi extraordinária.

Explicava-nos a esposa do Dr. Arouca que aquele grupo de pessoas se preparava para se juntar a um outro grupo para rumarem, a pé, até Lourenço Marques para defenderem o Acordo de Lusaka e acabarem com o que definiam como um movimento reacionário que tinha tomado a Rádio Clube de Moçambique. O Dr. Arouca buscava ali manter a razão acima das emoções, e dizia-lhes que as lideranças revolucionárias moçambicanas e portuguesas estavam juntas para resolver o problema sem derramar ainda mais sangue inocente.

Na casa havia um adolescente, que distribuía água entre as pessoas. Não me lembro se era filho ou sobrinho do casal Arouca. Logo eu estava ajudando-o nesta tarefa.

Essa noite, depois de avisarmos o motorista que ficara em Maxixe, dormimos em casa dos Aroucas, debaixo dessa adrenalina do controle da multidão por parte da liderança do Dr. Arouca.
Eu ficava imaginando o que não iria acontecer se aquela gente partisse de facto para Lourenço Marques! Me preocupava com o que se passava com os meus irmãos, tios, primos, amigos.


(Continua...)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Marrabenta

Série "Moçambique – O meu Setembro de 1974"


Parte III

Um amigo da família, o arquitecto reconhecido em terras moçambicanas, Andrade Paes, arranjou um VW, clone do que o Duarte um dia havia lhe pedido “emprestado”, sem lhe ter falado, para ir buscar um amigo a Tete, e colocou-nos um motorista da seguradora que representava em Vila Pery para nos levar, a Mãe e a mim, a Lourenço Marques, ao encontro dos manos.
Fazendo um parêntesis, sobre o “empréstimo” que o Duarte fez ao VW da Seguradora Mundial: É que o Duarte trabalhava na época do acidente com o Andrade Paes na dita Seguradora e arrumou forma de ficar com o carro no fim de semana. Lembro-me também que no mesmo período o Duarte dava apoio em um programa na rádio de Vila Pery em que a grande poetisa e humanista Glória de Sant’Atana, esposa do Andrade Paes, pilotava. Inclusive, a certa altura, desafiou o Duarte a montar por uma semana, em um horário noturno, um programa de Jazz com os discos que havíamos “herdado” do Pai, já falecido na época. Teve boa audiência. Me lembro que no dia 8 de Setembro, onde além de algumas retransmissões da tribo que havia tomado a Rádio Clube de LM, a Rádio de Vila Pery pouca falava e em compensação punha bastante música para os ouvintes, e boa parte da coletânea de Jazz que o Duarte havia selecionado para os tais programas foram também ouvidos naquele dia.
Mas voltando ao dia nove de Setembro, o motorista (me falta o nome deste senhor, que tanto me deu segurança nestes dias) e o Volkswagen nos apanharam no apartamento, e fomos para a estrada.
Já de noite, alguns quilômetros depois de termos passado de Maxixe, somos parados por uma barreira militar. Por alguns segundos a tensão dentro do VW é grande. Não sabemos se trata-se de uma barreira do exército português ou da Frelimo, nem mesmo sabíamos aquela altura por quem melhor poderíamos ser recebidos. Paramos, e um alferes do exército português se apresenta, pergunta-nos qual o nosso destino e não vê com bons olhos a nossa viagem, ainda mais durante a noite. Não nos deixa seguir viagem, alerta-nos que podemos inclusive encontrar outras barreiras, mesmo agora no sentido inverso, inclusive do pessoal da Frelimo. Ainda assim indica-nos voltar até Maxixe e nos acomodar em um hotel até que tudo se normalize. Fazemos meia volta, e não mais do que 1.000 metros depois, o motorista e a Mãe decidem estacionar o carro para dormirmos por ali. Naquele momento surgiu por parte do motorista a insegurança de nos depararmos com uma barreira da Frelimo e encontrarem um negro tentando ajudar uma senhora e o seu filho brancos. Momento onde a insegurança estava instalada, alimentada por um movimento reacionário, liderada por gente reconhecidamente reacionária, tentando mudar o curso da história, que alimentava naquele momento reações de ódio irracionais, o que deixou seqüelas políticas e sociais por muito tempo.
Decidiram os dois mais velhos que ali passaríamos a noite, dormindo, ou tentando dormir, dentro do VW (carochinha / fusca), com o experiente homem acalmando um adolescente que estava mais assustado com os barulhos, que vinham de fora, de possíveis animais selvagens, do que com possíveis guerrilheiros da Frelimo, militares portugueses, ou até mesmo com os reaças da Rádio Clube!
(Continua...)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Série "Moçambique – O meu Setembro de 1974"


Parte II


Sábado, dia 7 de Setembro, quando já havia uma grande expectativa sobre o Acordo de Lusaka, estávamos já no fim de tarde, início da noite, aguardando o Baile. Já tínhamos andado ali pelos lados do Centro Hípico a fumar um charrozinho, pois eram tempos que por onde andávamos uma nuvem nos acompanhava...uma nuvem do bem, de material de boa qualidade e sem estruturas mafiosas alimentando a malta.

De repente o som do Parque avisa, sem maiores detalhes, que em LM há confusão na cidade e que não vai haver mais baile e solicitam que todos se retirem, com calma (estes pedidos de calma deixam sempre todos nervosos), do recinto do Parque de Exposição.

A não existência deste baile deve ser um dos motivos de eu não engolir, nem com “catembe”, essa gente envolvida no 7 de Setembro... os do Rádio Clube, não os do Acordo de Lusaka, é claro!

Durante o Domingo, dia 08, acompanhamos as notícias e as informações através das retransmissões dos aventureiros que tomaram a Rádio Clube em Lourenço Marques, onde um dos líderes, se não o maior representante deste trágico movimento, era o Dr. Gonçalo Mesquitela, braço direito da ditadura colonial em Moçambique.

De tempo em tempo lá iam eles dizendo que tal cidade havia aderido ao movimento. Era a Beira, era Quelimane, era aquela, era a outra e quando chegou a vez de dizerem que Vila Pery tinha aderido percebemos o quanto virtual era o tal movimento.

Um grupo de amigos, onde eu era o mais novo, onde tínhamos ali alunos da Escola Agrícola e alguns militares que moravam no Lar que a Mãe tinha em Vila Pery, e outra malta amiga, fomos para a rua tentar nos certificar se havia alguma verdade na mentira que havíamos ouvido na rádio. Éramos um pouco mais de dez jovens, e logo alguém lembrou-se de levar junto a Bandeira da Frelimo. Passamos nos pontos de encontro mais costumeiros, como o Café Chimoio, na frente da Rádio, Café Concorde, Café Elo 4, não vimos movimento algum. Na verdade, se havia algum movimento, era o nosso, de um grupo de jovens andando pelas ruas da pacata Vila Pery com uma Bandeira da Frelimo e cantando algumas melodias do Zeca Afonso com a rebeldia de uma juventude a fim de atiçar o espírito provinciano da pequena Vila Pery.

A minha Mãe tentava contactar alguém em Lourenço Marques, para termos notícias dos meus irmãos. Não se conseguia! Telefonar para LM ficou inviável. A Mãe ficou extremamente tensa, ainda mais depois das notícias que teve quando conseguiu contactar os amigos, ex-colegas do Pai do jornal “Notícias da Beira”, na cidade da Beira, sobre a convulsão social que começava a surgir em LM. Informações sobre feridos e mortes chegavam.
(Continua...)

domingo, 31 de agosto de 2008

Série "Moçambique – O meu Setembro de 1974"

Fonte da imagem: DPD - Loja 6
Parte I





Em 1974, navegava eu para os meus 14 anos de idade, morava em Vila Pery, quando no final de Junho daquele ano o meu irmão mais velho, o Duarte, teve um grave acidente de carro quando foi buscar, em companhia do amigo Altímetro, um outro amigo, o Alferes Carlos Banha, a Tete, para passar o final de semana com o pessoal.




Quando já estavam perto de Vila Pery, o Duarte não segurou o VW em uma curva e bateu na roda de uma Toyota (jeep) e saíram capotando para fora da estrada.




O motorista da Toyota não sofreu nada, além do susto, que o levou a dar uns tiros para o ar, pois algo lhe fez achar que podia haver ali alguma coisa com os “turras”. O Altímetro e o Carlos Banha tiveram algumas escoriações sem maior gravidade.




Ao Duarte só lhe faltou encomendar a Missa do 7º. Dia, pois a estremunção chegou a ser-lhe dada já no Hospital da Beira, para onde havia sido evacuado em uma cena cinematográfica, pois vários carros foram para o aero-clube de Vila Pery para iluminar a pista para uma pequena avionete decolar durante a noite, com o mesmo inconsciente na companhia da minha Mãe e de um enfermeiro, pois não havia um médico disponível para o fazer.




Com o Hospital da Beira com os serviços parcialmente em greve, e já com o Duarte saído do coma, o mesmo foi enviado para Lourenço Marques para lá passar por algumas cirurgias.
A minha Mãe não o largou. Nós, os quatros irmãos (duas miúdas e dois miúdos), que havíamos ficado em Vila Pery, ao chegar o período de férias, fomos acompanhar a recuperação do Duarte em LM.



Setembro foi chegando, o Acordo de Lusaka se aproximava, mas a Feira do Chimoio e os seus bailes também.

A minha Mãe tinha que ir a Vila Pery resolver algumas coisas. Foi de auto-carro. Consegui convence-la a deixar-me ir uns dias depois com um amigo, mais velho. Os amigos dos meus irmãos mais velhos eram também meus amigos, se bem que nem todos os meus amigos, putos, eram amigos dos meus irmãos. A Mãe acabou por me liberar essa boleia no Datsun SSS, e no dia 5 de Setembro de 1974 já eu estava na Feira do Chimoio, a ver os bois, vacas, stands, moto cross com malta de todo Moçambique, em especial os craques da Beira, charros, miúdas.




(Continua...)

domingo, 20 de julho de 2008

Poeta do Chipangara


Classificarem a poesia e a prosa do Jorge Coimbra, ou o próprio poeta do Chipangara como "saudosista", mesmo que em tom de elogio, é de um erro dos maiores.

O Jorge Coimbra tem uma prosa que nos faz voltar à infancia, à adolescencia, com um sentimento de saudade de tempos que não voltam, porque o calendário só anda para a frente, passados em Moçambique. Mas na sua obra jamais se lê a desqualificação do presente, em comparações soltas, sem avaliações históricas embasadas em factos reais e racíocinios coerentes, característica de qualquer saudosista.

Viajar pelo passado e sentir ou nos fazer, com grande competência, sentir saudadades do mesmo, está muito longe de ser um saudosista.

Visitar o seu blog, Chipangara ou Espangara, é um passeio poético pelo passado para alguns, mas não só, pois este poeta não vive só do "ontem", mas com toda a certeza nunca com o tom saudosista.

domingo, 29 de junho de 2008

«Ricardo Rangel, Ferro em Brasa»


Navegando pelos blogues, cheguei a um post do Caminhos da Memória, onde fala de um documentário de Lecínio de Azevedo - brasileiro radicado em Moçambique - que conta a história do grande fotógrafo-jornalista Ricardo Rangel.
No fim deste post da Diana Andringa, é colocado um link para se ouvir um jazz que me fez relembrar grandes momentos - tudo que nos faz saudade, fica grande - onde vi o Ricardo Rangel e o meu Pai ouvir o Louis Amstrong, e outros, na nossa casa, no Macúti, na Beira.
E neste momento, que o José Moreira de Carvalho me presenteou recentemente com um texto para o Lanterna Acesa, lembro-me também que o mesmo havia ficado com uma grande parte da coleção de LP's de Jazz do Pai, quando nós em 1975, já o Pai havia falecido em 1972, viemos definitivamente para o Brasil, e quando em 1978 o José Moreira veio também para o Brasil, repassou esta mesma coleção de LP's para o Ricardo Rangel.
Soube pelo prórpio Ricardo Rangel, quando nos visitou em 1996 aqui em Curitiba, que ainda tinha estes LP's na sua (re) conhecida discoteca particular.
Sobre o documentário, farei de tudo para o poder ver. Afinal o Ricardo Rangel é responsável por grandes registros da história de Moçambique, é história de Moçambique, e faz também parte da história da minha família.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

25 de Junho


Que me desculpe o Povo moçambicano, mas como estou amuado com a passividade dos representantes do País com o que se passa no país irmão Zimbabwe, não me apetece festejar o 25 de Junho!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Zonué e Gouvêa Lemos por Moreira de Carvalho

Clique sobre a foto para a ver em tamanho maior...

Esta semana, conversando com o Tio Zé Moreira, hoje em Natal, Rio Grande do Norte, ao relembrar o Zonué, onde tive a oportunidade de morar um período em casa destes Tios muito queridos, Zé e Augusta, na década de 60, pedi-lhe que me escrevesse algo sobre esta região moçambicana.
O mesmo me propôs relatar um episódio passado lá com o meu Pai.
Pão com mel ! Adorei a idéia e no dia seguinte já cá tinha o texto.
Depois foi só ir ao antigo álbum de fotografias e encontrar uma que representasse bem o tema e encontrei uma onde se vê a casa da Herdade Boa Entrada, o casal José e Augusta Moreira de Carvalho, sócio no. 01 da COOP – Cooperativa de Tabaco do Chimoio, o sr. Abreu, técnico da Cooperativa, e a sua esposa, e o casal António e Madalena Gouvêa Lemos (da esquerda para a direita).
Como algo interessante, embora fora do contexto, o José Moreira de Carvalho, depois da Independência de Moçambique, como estrangeiro cooperante, ficou dois anos como técnico responsável pela produção, função anteriormente exercida pelo seu amigo Abreu que já havia partido para Portugal.
Mas hoje, o “post” foi-me dado de presente e está reproduzido abaixo.
___________________________________
Zonué se chamava a região moçambicana onde se localizava a minha fazenda.
Ali eu, minha Mulher e Filhos, vivemos durante duas décadas, alguns dos anos mais felizes de nossas vidas. Mas não é isso que quero falar agora.
Me pediste para te falar de uma crônica para o NOTÍCIAS DA BEIRA que da minha fazenda o teu Pai, o saudoso Gouvêa Lemos (mais meu irmão do que cunhado...) escreveu e que de certo modo me dizia respeito.
Era final dos anos sessenta, começo ou meados de Novembro. Havia mais de um mês que não chovia em toa a região de Chimoio e Manica, e nós agricultores estávamos desesperados vendo morrer pela seca todas as nossas plantações, no meu caso, de tabaco "virginia". Teu Pai tinha chegado uns dias antes para "cobrir" a grande seca e fazendo base em minha casa, todos os dias percorria outras fazendas de região, ouvindo os agricultores e constatando os prejuízos.
À noite, quando regressava, nos sentávamos no jardim, tentando apanhar um pouco de fresco, bebendo um "copo", e ele relatando o que tinha constatado. Só comentávamos a desgraça que a seca estava causando, a falta de apoio do governo aos agricultores, que se desesperavam sem saberem como iriam pagar os seus compromissos, financiamentos, etc. ... Eu então não parava de me lamentar.
Acontece, que ao fim de mais de trinta dias, a chuva veio em uma noite exatamente quando estávamos batendo papo no jardim. Veio pra valer! Ninguém arredou pé ou correu para se abrigar na varanda. Todos, eu, a minha Mulher e os teus Pais (a tua Mãe também tinha vindo) e até o Justino e o Moresse, meus empregados de casa, ninguém arredou pé pois todos queríamos receber aquela chuva , tão ansiosamente esperada, e que na realidade se tornava a salvação da lavoura, como se costuma dizer.
Choveu abundantemente durante mais de uma hora. Quando parou nos limpamos, trocamos alguma roupa encharcada e então sim, as lamurias, preocupações e desespero que uma hora antes eu não parava de lamentar, deram lugar a uma euforia da minha parte. Eu sabia que, no dia seguinte, a minha plantação estava salva e que logo cedo eu podia percorrer o campo e ver as plantinhas de tabaco, que anteriormente mal se viam, todas verdinhas e prontas a se desenvolveram normalmente e prometerem uma boa colheita!
No dia seguinte fui ler a crônica que o teu Pai havia enviado para a redação do Jornal. Claro que não me lembro de tudo que ele escreveu; mas recordo-me bem de uma parte, depois dos comentários sobre as dificuldades dos agricultores em face a falta de políticas de apoio do governo, que dizia mais ou menos assim: ontem à noite um agricultor que me é fraternalmente muito querido, após aquela chuva abençoada já se esquecia da seca, dos prejuízos, das dividas de safra, enfim, de tudo o que minutos antes o atormentava, e cheio de alegria e entusiasmo me falava dos seus projetos para o ano seguinte, compra de novos equipamentos agrícolas, aumento da área de plantação, ou seja de investir mais ainda no seu único patrimônio!
E terminava mais ou menos assim: "afinal os agricultores são como as crianças qualquer chuva os deixa eufóricos, cheios de esperança, como de tivessem ganho o brinquedo que tanto desejavam."
De dezenas ou até centenas de crônicas escritas pelo Gouvêa Lemos, esta escrita da minha fazenda, falou fundo no meu coração e sempre a recordo com muita saudade, a mesma saudade com que recordo o Jornalista mais integro e independente que passou por Moçambique, onde ainda hoje é lembrado com admiração e respeito.
Meu caro Zé Paulo, desculpa ter-me alongado tanto, mas entre muitas coisas que me faltam, me falta a sabedoria do teu Pai de saber escrever "muito" em poucas palarvras.
Um abraço do teu velho tio
José Moreira de Carvalho.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Pisada de bola de Daviz Simango

Daviz Simango
Fonte da imagem: Canal de Moçambique
Daviz Simango anuncia que será candidato à reeleição nas autárquicas de Novembro, pela segunda cidade de Moçambique. Nada mais democrático.Aqui deste lado do mundo, embora não tenha amores pelo seu partido, as notícias que me chegam é que o mesmo vem fazendo um bom mandato.
Mas no seu discurso pré-eleitoral fez colocações de efeito que nada me soaram bem. Tudo bem que não é a mim que deve soar bem ou mal, afinal sou só um natural de Moçambique, mas antigo residente da Beira, e agora instalado em terras brasileiras.
De qualquer forma, não consegui ler, sem me arrepiar e me vir um sentimento de frustração por dele virem estas palavras:

a. "Vamos encostar os comunistas, como Tsavangirai encostou aquele madala de Mugabe. (...)”

Soa como falta de respeito com os madalas (idosos) moçambicanos, ao vincular um adjetivo tão respeitoso a uma figura de tão pouco respeito como o Mugabe.

b. "O trabalho de cada um de nós é muito importante. Não vamos permitir que nos roubem os votos. Não vamos permitir que nos humilhem na nossa própria terra. A Renamo tem que Governar"

Defendendo a união na Renamo, fala da Beira como “nossa própria terra”. Qual será o conceito de unidade que Daviz Simango terá para os moçambicanos?
Notícia completa no Canal de Moçambique.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Liberdade de Imprensa - IV



Como bastante representativo, pelo o que está escrito na crónica e por abordar uma eleição na então Secção de Moçambique do Sindicado Nacional dos Jornalistas, em 1969, indico a leitura do post no link onde se poderá ler a crónica de Gouvêa Lemos, "Dias Eleiorais".

Liberdade de Imprensa - III


Quando foi fundada a Frelimo?
Blog “Sem Técnica”, em 25/03/2005

É costume dizer-se que o futuro de um país está nas crianças. O problema é que quem as educa são os adultos, mas em uma entrevista a um programa de rádio, no final da década de “50”, início da de “60”, Gouvêa Lemos respondeu a muito mais do que a pergunta pedia; conseguiu, ao meu ver, ao conceituar o que um jornal infantil deveria enaltecer, mostrar como ele gostaria de ver Moçambique.


Jornal Notícias – (Não tenho o registro da data, mas creio ser do fim da década de 50, início da de "60")


Retalho do programa radiofônico “Escola Nova” de Lisete Lopes


PERGUNTA: O que pensa da criação dum jornal infantil e qual a orientação a dar-lhe?
RESPONDE Gouveia Lemos

Toda a gente concorda que em qualquer literatura especificamente infantil, deve-se orientar-se pelo futuro dos homens em potencial, a quem se dirige, cultivando neles valores positivos do espírito.
As crianças estão a brincar no átrio da sociedade em que hão-de cumprir a sua vida; pois então que a literatura infantil as integre harmonicamente nessa sociedade, fazendo-as amar o próximo, estimar a paz, buscar o progresso da Humanidade.
Posta esta hipótese de ser editado um jornal infantil em Moçambique, decorre daquele pressuposto, que essa publicação terá de ser, além de indispensável divertimento e jogo intelectual à medida do entendimento dos seus leitores, algo mais que um jornal de quadradinhos, igual a tantos outros, importados, que por aí se vendem, tipo “stantard”, estereotipados na tipografia e no contexto. Para fazer mais um desses e gritar depois que o prefiram porque é local, vale mais estar quieto. Julgo que um jornal para as crianças de Moçambique tem um importante papel a cumprir e só poderá cumprir se for defendido, logo ao nascer, de certas deformações correntes, há muitos anos.
(Lembro-me, a propósito duma certa manhã de sábado, em que o meu filho mais velho chegou da Escola, impressionadíssimo e confuso, por causa duma história de piratas, que fora o tema duma prédica).
Ora, se tal jornal aparecer – e oxalá que sim – deverá colocar o seu leitor num pedestal, onde só cheguem sentimentos como a fraternidade, sobretudo, para além de raças. (ser mais claro, pois ninguém me acusará de racista, pelo meu anti-racismo). Um jornal infantil de Moçambique não pode conter, nas suas histórias, exclusivamente, heróis de caracóis loiros, como não deve inserir, subsidiariamente, histórias para africanos. É necessário que se crie uma literatura infantil bem nossa, isto é, que reflita esta sociedade que constituímos e sirva verdadeiramente à sociedade que pretendemos desenvolver.
Que em cada pequeno leitor se fecunde a matriz da igualdade e não se consinta no aparecimento de pragas como os preconceitos de que a Humanidade, tanto a custo e com derramamento de tanto sangue, se vem pelos séculos libertando.
Penso que, entre nós, a preocupação máxima, absorvente, de todos os instantes, na educação dos nossos filhos - que não são poucos mil, mas alguns milhões – deve ser essa. Portanto, na nossa quiçá nascente literatura infantil, o primeiro artigo dum programa de trabalho será relativo a essa preocupação, para que os meninos não venham a julgar-se, na melhor das hipóteses, protectores em vez de companheiros, padastros em vez de irmãos.
E outra preocupação deve ser a de não acarinhar e exaltar instintos bélicos nas crianças; nada de armas, basta de tiros.
Fale-se-lhes num mundo de paz, sem pistolas nem bombas, com toda a gente feliz, e explique-se-lhes que isso é possível, se todos os homens quiserem.
Sei que não disse nada relevante sobre literatura infantil, na generalidade; mas acredito que, hoje, não será inteiramente inútil dizer estas coisas que penso, sobre o futuro das crianças de Moçambique.

Liberdade de Imprensa - II


Série - Quando foi fundada a Frelimo?
Blog “Sem Técnica”, em 22/03/2005

O jornalista Gouvêa Lemos era cobrado pelos amigos, principalmente pelo José Craveirinha e o Eugénio Lisboa, que escrevesse a sério a sua poesia. Ele dizia que não tinha competência para tal, mas em um "tropeço" se contradiz no poema abaixo. Será que GL já percebia o colonialismo? Claro que sim, ele e muito mais gente. Outros nem tanto e outros tantos até viam e achavam que estava tudo muito certo.


Canção de Angónia

Visto a camisa lavada
e vou para
o contrato.
Quem de nós,
quem de nós irá voltar?
Vinte e quatro
luas,
sem ver as mulheres,
sem ver a minha terra,
sem ver o meu boi.
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
Visto a camisa lavada
e vou
para o contrato,
trabalhar lá longe.
Vou para além da montanha,
para
lá do mato,
onde some o rio.
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
Veste a camisa lavada,
é
hora de ir ao contrato.
Entra, irmão, no vagão,
vamos andar noite e dia.
Quem de nós.
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
quem de nós
irá morrer?
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar
e ver as mulheres,
e ver nossas terras
e ver nossos bois?
Quem de nós irá morrer?
Quem de nós?
Quem de nós?

Gouvêa Lemos

Liberdade de Imprensa - I


Quando se comemora no dia 03 de Maio o Dia da Liberdade de Imprensa, não posso deixar de me lembrar de um dos maiores defensores dela ainda nos tempos da outra senhora, quando Moçambique ainda colônia portuguesa.
O jornalista Gouvêa Lemos deu a vida pela profissão e batalhava para que a mesma fosse limpa e em muito trabalhou em favor da liberdade da imprensa naqueles tempos de ditadura colonial, e fez escola no estilo de como driblar os órgãos censuradores para conseguir passar informações e/ou análises, através das suas crônicas, para os seus leitores.
Como forma de (sempre) homenagear o Jornalista e Pai Gouvêa Lemos, e o Dia da Liberdade de Imprensa, estarei aqui transcrevendo alguns post’s que fiz no meu antigo blog “Sem Técnica” em 2005. Esta séria de post’s intitulei na altura de “Quando foi fundada a Frelimo?”.


Série - Quando foi fundada a Frelimo?
Blog “Sem Técnica”, em 20/03/2005


Em 1962 materializou-se em organização, com generais e soldados, a Frente para Libertação de Moçambique, a Frelimo, que após a Independência transformou-se em partido político.
Mas antes disso já havia quem sentia as injustiças do fascismo colonialista em Moçambique e nas outras “Ultramarinas”.
Venho hoje falar especialmente em uma dessas pessoas, um jornalista renomado, que tinha a ética na ponta da sua pena. Pena que era a sua arma que se abastecia de munição no seu tinteiro.
Gouvêa Lemos assumia para si qualquer tipo de luta quando envolvia injustiças. Dentro do próprio meio jornalístico, não aceitava a falta de companheirismo e muito menos a ausência de ética. Foi assim com o Sr. Rui Cartaxana quando este escorregou em alguns momentos pelo plágio e em alturas que lutava, o Sr. Rui, por um lugar ao sol como representante em Moçambique no Sindicato Nacional de Jornalistas, foi assim mesmo quando nas suas opiniões cortantes acabou por apanhar uns murros do Dr. Ney Ferreira – um covarde, porque sabia que batia em um recém operado ao coração, e isso na década de sessenta – e o mais engraçado é que estes dois, talvez até mesmo com todas as divergências ainda assim houvesse por parte de ambos respeito por GL, acabam usando o nome do Gouvêa Lemos como ícone para uma troca de farpas entre eles, através de algumas edições de qual só tenho três exemplares (“Um Homem a Liquidar”, por Rui Cartaxana, “Tempo de acusar ou O Retrato dum retratista”, de Jose C. Ney Ferreira e do mesmo, “Tempo de Desmentir ou 24 Mentiras do Sr. Rui Cartaxana”).
Eram tempos de idealismos e GL era na sua essência um idealista. Eram tempos de se sonhar com uma imprensa independente. Mas ainda eram tempos onde os salários dos empregados de menor escalão eram prioridade, só que as contas, inclusive os alugueis das casas da COOP, não esperavam. Tempos em que muitos desses funcionários de menor escalão ajudaram a pôr o pão na mesa da família do GL.
Se no meio jornalístico Gouvêa Lemos não aceitava a injustiça e a falta de ética, assim lidava com a sociedade em um todo. Hoje coloco duas crônicas que estão mais direcionadas para o seu meio, mas mostram um pouco dos seus princípios: As Cartas Anônimas e Os Beatíficos Cretinos.
A questão que deixo, é onde ficaram os nomes como o de Gouvêa Lemos? Sei que ele faleceu precocemente, por ironias da vida, no mesmo ano do ultimo livrinho do Dr. Ney Ferreira (deu até tempo do mesmo comentar o facto no mesmo, tipo o cúmulo da rapidez que é o fechar a gaveta à chave e deixar a chave dentro), e que isso possa ter ajudado muita gente ter esquecido da importância que o mesmo teve para o jornalismo moçambicano e só por isso para a história de Moçambique.
Não por eu ser filho dele, mas pela certeza que o mesmo merece ser lembrado, o sem “SEM TÉCNICA” vai abrir um espaço para este que foi um dos maiores, senão o maior, jornalistas que Moçambique teve nos tempos de pré-independência e, para alguns dos seus companheiros.


AS CARTAS ANONIMAS – por Gouvêa Lemos
[In: Notícias da Tarde, Lourenço Marques, ano VI, nº. 1:680, 27 de Novembro de 1957, p. 1]

Estou a ouvir aquela voz nortenha, franca e sã, com ressaibos de Miragaia, da Hora dos Pobres. O paciente senhor queixa-se das cartas anônimas que recebe e, muito a propósito, declara que mais valia terem ficado analfabetos os seus autores. Tem razão. Isto de saber ler e escrever começa a ser uma coisa horrível. Pelas libertinagens que ocasiona e pela coacçöes e inibições que traz.
- O senhor doutor sabe ler e escrever?
- Sim. Infelizmente, sei.
Também tinha razão o bacharel, que respondia ao burocrata.
É uma carga de trabalhos este dote de - tão simplesmente - saber ler e escrever. O que nos faz ler! O que nos apetece escrever...
Mas as cartas anónimas, essa miserável cloaca, para onde convergem os recalques e as misérias dos tais - que sabem ler e escrever é uma necessidade lamentável e tristíssima, como outras chagas de humanidade, que subsistirão, enquanto a humanidade não for melhor que isto. São a única justificação, a simples aplicação de muito diploma de instrução primária.
O único remédio conhecido, que pode resultar alguma coisa, na profilaxia de tal moléstia, é a coragem de não ler as cartas anónimas. Dominar a curiosidade, o sadismo, o masoquismo e antes de percorrer com os olhos todas as linhas, atirar ao lixo esses documentos de baixeza.
Mais efectivo, mais radical seria não aprender a ler.
Eu vou mesmo ao ponto de propor uma campanha de analfabetização.
Começa a haver gente de mais, que sabe ler e escrever...


OS BEATIFICOS CRETINOS – por Gouvêa Lemos
[In: Notícias da Tarde, Lourenço Marques, ano VI, nº. 1:694, 13 de Dezembro de 1957, p. 1 e 5]

Passei dois anos fora e verifico hoje, contristado, que não melhoramos nada.
Continuam a medrar os miseráveis sujeitos, que não se aguentando em terreno livre, por estupidez, por ignorância ou por inaptidão, se escondem entre o capim e, rastejantes, nos mordem as canelas, com o veneno de certas acusações.
Já de pequeno me vem este asco por tais espécies de subfauna, que sempre nos rodeiam e espiam. Embirrava, profundamente, na escola, com os maricas, useiros e vezeiros na queixinha à senhora professora.
E afinal quando nos corrigiremos - melhor quando se corrigirão esses crápulas do vício de ver inimigos em todos quantos não entendem bem ou porque têm idéias e cultura ou mais desassombro, mais valentia moral ou ainda - simplesmente - são menos servis, menos sabujos, menos oportunistas, menos cínicos, menos inferiores na escala dos valores humanos? Continuamos na mesma tristíssima situação, que permite às lagartas comerem à mesa do banquete e chegamos até ao ponto de um infeliz despeitado qualquer destilar o pus dos seus despeitos infectados, guardando um covarde anonimato, característico de tais exemplares, para se vingar de colegas de Imprensa - ou ex-colegas - indo acusá-lo nas colunas de um semanário da Metrópole, conhecido pela sua coragem e galhardia. Neste ponto devemos lamentar que um vulto da envergadura do Prof. Jacinto Ferreira, que tanto admiro, tenha consentido no desaire, que põe em cheque o seu Debate, já que a garrafada saiu sem nome do mésinheiro responsável.
Devo declarar que não me enraivece nada não saber quem é o indivíduo.
O que posso garantir, sem medo de errar, é que o fulano deve estar bem - na vida prática. Deve singrar.
Não tenho nada com a história, pessoalmente, mas entendo que todos os que escrevem em jornais temos obrigações de solidariedade, uns com os outros - e o dever de colaborarmos na manutenção da higiene moral e social do meio em que vivemos.