segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Série "Moçambique – O meu Setembro de 1974"


Parte II


Sábado, dia 7 de Setembro, quando já havia uma grande expectativa sobre o Acordo de Lusaka, estávamos já no fim de tarde, início da noite, aguardando o Baile. Já tínhamos andado ali pelos lados do Centro Hípico a fumar um charrozinho, pois eram tempos que por onde andávamos uma nuvem nos acompanhava...uma nuvem do bem, de material de boa qualidade e sem estruturas mafiosas alimentando a malta.

De repente o som do Parque avisa, sem maiores detalhes, que em LM há confusão na cidade e que não vai haver mais baile e solicitam que todos se retirem, com calma (estes pedidos de calma deixam sempre todos nervosos), do recinto do Parque de Exposição.

A não existência deste baile deve ser um dos motivos de eu não engolir, nem com “catembe”, essa gente envolvida no 7 de Setembro... os do Rádio Clube, não os do Acordo de Lusaka, é claro!

Durante o Domingo, dia 08, acompanhamos as notícias e as informações através das retransmissões dos aventureiros que tomaram a Rádio Clube em Lourenço Marques, onde um dos líderes, se não o maior representante deste trágico movimento, era o Dr. Gonçalo Mesquitela, braço direito da ditadura colonial em Moçambique.

De tempo em tempo lá iam eles dizendo que tal cidade havia aderido ao movimento. Era a Beira, era Quelimane, era aquela, era a outra e quando chegou a vez de dizerem que Vila Pery tinha aderido percebemos o quanto virtual era o tal movimento.

Um grupo de amigos, onde eu era o mais novo, onde tínhamos ali alunos da Escola Agrícola e alguns militares que moravam no Lar que a Mãe tinha em Vila Pery, e outra malta amiga, fomos para a rua tentar nos certificar se havia alguma verdade na mentira que havíamos ouvido na rádio. Éramos um pouco mais de dez jovens, e logo alguém lembrou-se de levar junto a Bandeira da Frelimo. Passamos nos pontos de encontro mais costumeiros, como o Café Chimoio, na frente da Rádio, Café Concorde, Café Elo 4, não vimos movimento algum. Na verdade, se havia algum movimento, era o nosso, de um grupo de jovens andando pelas ruas da pacata Vila Pery com uma Bandeira da Frelimo e cantando algumas melodias do Zeca Afonso com a rebeldia de uma juventude a fim de atiçar o espírito provinciano da pequena Vila Pery.

A minha Mãe tentava contactar alguém em Lourenço Marques, para termos notícias dos meus irmãos. Não se conseguia! Telefonar para LM ficou inviável. A Mãe ficou extremamente tensa, ainda mais depois das notícias que teve quando conseguiu contactar os amigos, ex-colegas do Pai do jornal “Notícias da Beira”, na cidade da Beira, sobre a convulsão social que começava a surgir em LM. Informações sobre feridos e mortes chegavam.
(Continua...)

2 comentários:

Anônimo disse...

Tempos inesquescíveis, onde o sonho de um Moçambique mais igualitário e democrático ainda vivia.

Eramos todos jovens e cheios de inocência. Apesar de sermos pró-independência, Peace & Flower era o nosso verdadeiro movimento.

Abraço
Tó Maria

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

"Inocencia" que gostaria de ver em alguns políticos, "peace", que deveria ser uma obrigação em todos eles.
Sem dúvida, sonhos que se alguns já foram realizados, outros muitos ainda por serem realizaddos e /ou aperfeiçoados.
Tempos de facto inesquecíveis!

Abraço,

Zé Paulo