Luís Fernando Veríssimo é ao meu ver um dos maiores cronistas da imprensa brasileira. Tenho acompanhado o seu olho crítico nesta campanha presidencial americana, onde pessoalmente fico na dúvida se eles aprenderam com Hollywood ou se Hollywood aprendeu com eles a organizarem mega shows, não só nesta campanha, como em todas as que já tive a oportunidade de ser bombardeado pela mídia brasileira e internacional. Como se para o resto do mundo ter um democrata ou um republicano na presidência dos americanos vá mudar muito para o resto do Planeta, como se com um ou com outro deixará, ou não, de haver guerras no Vietnam ou no Iraque.
Mas voltando ao Veríssimo, a crónica do mesmo deste domingo, com a devida vénia, não consigo deixar de aqui reproduzi-la.Agência Globo
Por Luís Fernando Veríssimo
Exótico
Agora que Barack Obama está confirmado como o indicado dos democratas à presidência dos Estados Unidos e sua candidatura passou de hipótese a fato, muitos no seu partido devem estar se perguntando “o que foi que nós fizemos?” A hipótese de alguém como Obama ser o candidato era atraente, era de sonho. O fato irreversível da sua candidatura traz um choque de realidade.
Obama, como hipótese, era um candidato diferente, mais diferente do que qualquer outro na história do partido e do país. Obama confirmado provoca especulações sobre a viabilidade política do sonho. Especula-se que ele talvez seja diferente demais.
Se Obama fosse negro de pai e mãe seu exotismo seria menor. Bem ou mal, os brancos americanos já tem uma longa experiência de convivência com negros, principalmente depois do fim do racismo oficial nos estados do Sul e da segregação nas escolas. Mas ainda existe uma separação de fato, e o que quase não faz parte da experiência americana é a mestiçagem. Obama não é apenas diferente da maioria branca, é diferente da maioria dos negros do país – na verdade, com sua história multirracial e multinacional, é diferente da maioria da humanidade.
Além de ser filho de um africano muçulmano e de uma americana branca, nasceu no Havaí, que no imaginário, e nos planos de viagem, do americano comum é o lugar mais exótico em que se pode estar sem sair dos Estados Unidos. E, não sendo um havaiano típico, até no Havaí ele é diferente.
O trabalho duro dos democratas agora é fazer o eleitorado distinguir o que Barack Obama tem de positivamente diferente do que ele tem de estranho. Na convenção que indicou Barack já deu para perceber que grande parte da propaganda eleitoral democrata será dedicada a mostrar que os Obama são gente como a gente americana e não têm nada de exótico, ou não ao ponto de assustar. E que a novidade que ele representa é a de um jovem com outras idéias, em contraste com o velho McCain, e não a de um enigma que se aproxima da presidência para fazer ninguém sabe bem o que. Esta última alternativa é a que a propaganda dos republicanos enfatizará, numa campanha que – segundo comentaristas americanos – já é uma das mais sujas da história. Pode-se imaginar que até as eleições de novembro um lado insistirá que Barack Obama é normal e o outro que ele é um mistério de quem se pode esperar de tudo, até o sacrifício de galinhas no Gabinete Oval.
De qualquer jeito, agora começa o período em que as pessoas se concentram nas opções e nos contrastes e pensam melhor em quem vão votar. E em que o partido democrata descobre se fez uma boa escolha ou jogou fora uma eleição imperdível.
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