sábado, 19 de julho de 2008

Loures. Racismo? De quem?


O meu chamuar Carlos Gil está zangado porque não viu ninguém do SOS Racismo se manifestar sobre os acontecimentos em Loures. O João Tunes, no seu Água Lisa, referenciou este post do Gil, e até abriu o leque ao questionar, sem nomear, qualquer outra organização que defenda a luta contra o racismo, e aponta a passividade de muitos quando o racismo não parte do branco para o negro, ou do europeu para o brasileiro. Na Barbearia do Senhor Luís, já a sua passagem pelo assunto é por uma outra linha, onde o mesmo em uma postura, ao meu ver muito feliz, diz: “Um dia, quando a utopia chegar, havemos de ser capazes de só ler que: - No bairro X houve um tiroteio entre arruaceiros portugueses. (ponto final)”

Esta sua colocação foi em um comentário ao seu post, qualificada como sendo paradoxal, o qual até o mesmo concordou e afirma ter sido proposital.

Não vejo, pois podemos acreditar que a utopia possa um dia chegar e então passar a ser algo real e como tal ser tratado. Quando vejo utopias do passado tão reais hoje, não vejo paradoxismos nisso.

Mas da facto, hoje, em uma sociedade cheia de fronteiras, xenófoba, racista, reacionária, é mesmo utópica a idéia para muitos e infelizmente nada, ainda nada paradoxo, acreditar-se que houve um "complexo" e mal administrado, pelos envolvidos e pelos órgãos que aí estão para administra-los, conflito entre vizinhos que se uniram em grupos para sair ao estalo...e armados.

Afinal estará mesmo na cerne deste conflito o racismo, ou estão os críticos do conflito, perplexos, colocando questões raciais ao tumulto? Mas afinal onde está o racismo? No conflito ou com quem está assustado, mesmo que como justificativa instintiva por parte dos que estão assustados, com o conflito?

O problema não estará na covardia ao não se executar as leis e assim irem alimentando cabecinhas xenófobas? Conviver-se com questões culturais, como por exemplo com a rica cultura cigana desde os tempos do tio Salazar é muito bonito e correto, mas que lhe façam cumprir as leis como a qualquer cidadão português. Dessa forma, em um conflito onde um, ou mais ciganos, esteja envolvido, que não haja receio de se executar a lei com este(s) e com a outra parte também envolvida, para que depois não se aponte a justiça de agir de forma parcial ou de forma paternalista para um ou para todos os lados.
Imagem do blog do Josias de Souza

10 comentários:

Carlos Gil disse...

Zé Paulo:
li-te e fui ler o LNT, pois desconhecia aquele post (gostei). este caso é dos tais que se pode chamar de 'case study'. vou avançar com umas coisas que não vêm nos jornais.
hoje de manhã, sábado, tocaram-me a campainha eram praí umas 10 e meia, ainda eu andava em cuecas: um velho amigo e colega, que se estaeleceu em Loures há uns anos. tinha vindo a Santarém por razões familiares, e aproveitara e viera a Almeirim beber uma bica comigo.
Inevitavelmente aquilo veio à baila. Até me disse que ele estava no bairro, em trabalho, quando começou o 2º tiroteio, o mais mediático pois é o que passou nas televisões. mais: desmentiu que não houvesse policiamente após a primeira refrega (noite anterior) mas que o carro de poatrulha lá estacionado era manifestamente incapaz de fazer algo com tanto chumbo pelo ar, além do que fez: pedir reforços, e que num instante lá chegaram. portanto as imagens passadas na TV (olha a surpresa...) deixaram uma impressão de aquilo andar ao Deus-dará que não é verdade.
mas disse-me mais - e eu, nele, confio. quer porque o conheço quer porque ele está lá, Loures, diariamente, não só a morar como a fazer o seu trabalho que, como sabes, não é dos mais simpáticos deste mundo.
sabes o que ele me disse? que o bairro em causa não tem nada a ver com um mero amontoado de betão onde as pessoas foram encaixotadas: há jardins, há parque infantil, há zonas de comércio, há uma escola e até um pavilhão para uso comunitário. há condições de socialização sustentada.
sem saber ao certo porém avança-me que a imprensa terá sido exagerada ao referir que 90% dos agregados familiares benificia do Rendimento Mínimo Garantido. ele, que mais ou menos até mexe em papéis que lhe podem dar uma visão genéric sobre esses númerros diz que serão meia por meia, ou pouco mais. e que o parque automóvel também não é BMW e Mercedes como os tablóides logo disseram, aproveitndo uma foto ou outra: é o parque automóvel normal dum bairro, como a exemplo este onde eu moro, como o parque automóvel dum bairro onde, a exemplo e indo buscar o priemiro nº avançado mas usando-o ao contrário, 90% dos habitantes têm uma ocupação remunerada.
aquele bairro é de habitação social mas foi 'pensado' quand projectado e não meros caixotes para albergar os desalojados pela construção da Expo'98. aquele bairro social tem prédios, proporcionalmente, com excelentes condições para os seus habitantes. aquele bairro tem dez anos. a renda, por ser bairro social e as casas propriedade da autarquia, é proporcional aos rendimentos. há rendas de 5-cinco-5 euros (antigos mil escudos, hoje 3 maços de cigarros) para os tais RMG. rendas que quase ninguém paga, nem nunca pagou nenhuma desde que para lá foram morar. dez anos.
o meu bairro, aqui em Hell-meirim, é um bairro construído há uns 20/30 anos atrás por uma cooperativa de habitação. idem habitação social, portanto. mais velha, à volta de 20 anos mais velha. sendo verdade que não compramos o andar quando o prédio foi construído e portanto não benificiamos dos preços próprios duma cooperativa, tendo-o adquirido portanto a preço de mercado, é porém verdade que moraramos aqui há 9 anos e mensalemnte (valor actual) pagamos 300 e tal euros de prestação do empréstimo bancário. com ainda uns dez/quinze anos pela frente por pagar. e, felizmente, temos as prestações em dia. senão o Banco fazia o que o manual manda fazer e mais dia menos dia estávamos no olho da rua. lá, ninguém se rala com isso, é 'perigo' inexistente...
Loures, aquela zona e outra pegada cujo nome agora me escapa, são conhecidas como supermercados de droga. não o pequeno tráfico como há um pouco em todo o lado, infelizmente. esse, lá, afiançou-me o meu amigo que-lá-anda-todos-os-dias, é feito em todas as esquinas, descaradamente, faça sol ou faça chuva, vá a passar a simpática velhota do 3º direito ou os putos que vêm da escola de mochila às costas. esse tráfico faz parte do décor. mas há o outro, o grande grande, suspeita-se provavelmente com razão. há coisas difíceis de explicar à distância, e compreendê-las. eu aqui, em Hell-meirim, também não as entendo. mas ele, que mora-lá-e-lá-blá-blá-todos-os-dias explicou-mas, contou-me do que se vez e do que se fala, das rusgas que - embora mal 'soe' que 'eles chegaram' leva a estranhas movimentações nos prédios, etc, etc, e mesmo assim 'eles', quando lá vão, vêm sempre com um quilito de 'branca' que ficou para trás na corrida, mais uns pormenores como umas braçadas de caçadeiras e de 'canhotas'. eis parte do problema.
depois as tais 'comunidades étnicas' e o antagonismo que se instalou entre elas, até chegar ao ponto que se viu - e está para durar... (tiros isolados já nem são notícia, disse-me. a polícia vem, claro, mas se não houver ninguém ferido - felizmente... - não há rasto de nada, ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém sabe de nada: os 'clãs' a funcionarem, metade, o medo a completar o círculo). ali não há meias palavras para contá-lo doutr forma que assim: os ciganos e os negros (no seu conjunto a quase totalidade dos habitantes, se os olharmos por raças) criaram entre si anti-corpos de desconfiança que ao menor rastilho descamba em ódio racial. a integração social foi completamente falhada. as comunidades não convivem: habitam porta com porta olhando-se como inimigos. no rol de pacados e pecadilhos atrás, ambas presentes e em força. mas mesmo aí atiram-se mutuamente culpas, se calhar porque disputam ambas o mesmo 'mercado'.
isto num bairro social onde, da parte do investimento-Estado, é visível o esforço feito para que houvesse condições para. onde, embora o RMG seja igual ao salário mínimo e com 'habilidades' de duplas moradas vários membros do mesmo agregado o recebem, nem assim pagam uma única renda mensal de cinco euros. e se os BM's não são tantos como se diz, repito, também repito que ele me disse que quem olha para o parque automóvel acha-o perfeitaemnte normal em relação a qualquer outra zona da cidade: mais ou menos a quantidade que seria normal para x prédios, mais ou menos a percentagem de 'novos', 'usados' e 'sucatas ambulantes' que há, a exemplo, aqui no meu bairro.
o que falhou? porque falhou? porque é que não é caso isolado e repete-se (com menos estampidos e alarido, felizmente) em toda a zona suburbana de Lisboa e outras grandes cidades? Cascais, Oeiras, Amadora, Alamada, Barreiro, a lista é igual à que tu arranjas olhando para um mapa da zona. o grave, o ilógico e insensato, é que este bairro tinha/tem aquelas condições todas que referi para que "desse certo" e, entre todos, é onde está tudo a correr pior. pior que em Corroios ou na Reboleira, em Paço d'Arcos ou na Qtª do Conde, onde as habitações e as condições estão a léguas daquelas - mais antigas, pelo que não é de espantar.
porquê?
é um problema racial, se não o era tornou-se. não há que escamoteá-lo, fazer vista grossa, arranjar desculpas para silêncios que tresandam a pôdre ou esticar o conceito de 'políticamente correcto' até ele cheirar ainda pior do que já por essência etimológica tresanda. e aqueles senhores todos, sempre tão lestos para o condenável resto - não repito o João Tunes, é ires/ir-se relê-lo/lê-lo - emudeceram e assobiam para o lado. estão na toca a espera doutra ocsião onde as suas gargantas soem tronitrantes e não trémulas perante os microfones. porque eles formataram psicologicamente um modelo de racismo e daí não saem, ou por teimosia ou por burrice ou apenas porque não conseguem ver o mundo além das suas barreiras, as que eles criaram. tornaram-se Inúteis com este caso, com o seu silêncio envergonado, cúmplice, de vómito quando pelos seus topos-de-gama-intelectuais debitam nos jornais conscienciosos esclarecimentos em artigos de opinião que nem se lhes chega a meio sem o cheiro das letars nos afastar, tal o pivete a má fé e demagogia. a consciências pesadas, a perplexidade por o mundo não ser só como sempre o imaginaram e, pior, afinal onde sles se sentiam bem. o mundo politicamente correcto à John Wayne, os cowboys e os índios estão perfeitamente identificados e em todos os sketchs repetem o mesmos papéis.
só que na Qtª da Apelação só havia cowboys, e disparavam uns contra os outros - horror, que fazer! que dizer, como ME justificar!?
o João falou em flagelação intelectual e eu ajudei e fui buscar silícios para explicá-lo, em reforço. talvez a explicação destes ande por aí. do seu comportamento, incompreensível e injustificável face à cartilha que 'juraram' defender - meritória e necessária, reafirmo-o e daí a minha amargura.
mas nada disso explica a dicotomia de Loures, do porquê não ter dado certo quando houve um esforço honesto, empenhado, para que desse.
sabes? há coisas que nem aqui contadas por mim ou lidas nos blogues ou nos jornais. só se acredita ou vendo ou ouvindo quem vê. tal como daqui para aí, daqui e daí para lá, a nossa matriz referencial. a distância dos factos, se tanta vez permite maior lucidez na análise, noutras tantas afasta-nos das realidades tão simples como dizer assim: lá, em Loures os negros e os ciganos não estão de costas voltadas uns para os outros: estão cara a ara e de armas na mão, tal a pouca confiança em virar costas a quem, já sedimentado em anos, vê-se como inimigo irreconciliável.
soluções? não tenho. mas o não ser nem profeta nem milagreiro não me pode levar a calar-me. mais a mais quando os que deviam ter falado desapareceram em férias, no espaço ou no esgoto.
tem que se ser rude com quem prega uma traição destas.

abraço, e desculpa lá ter tirado a noite para te alagar a casa.


ah! outra coisa: o meu amigo confirmou-me o já sabido por todos: nos imigrantes os problemas, como sempre, vêm da 2ª ou 3ª gerações: a 1ª imigrou para cá em busca de melhor vida, em busca de trabalho melhor remunerado.

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Carlos,
Em primeiro lugar, o meu (nosso) obrigado por estenderes a tua noite para aqui colocares tanta informação e as tuas ponderações e interpretações.
Sobre os esforços em relação à qualidade das construções feitas, os incentivos sociais com rendas para bairros sociais e que ainda assim grande parte não as paga, conforme te informa o teu amigo, (não vamos entrar sequer na imprensa irresponsávél dos tabloides sensacionalistas), só me mostra mais uma vez que um dos problemas está mesmo na falta da execução da leis. O problema não está nos tijolos usados, nem no projeto desenhado,mas sim na forma como se lida com as pessoas que por lá têm, ou passam, a residir. Tu informas que 90% sobrivivem de salários remunerados, e não o inverso. E ainda assim a grande maioria não paga as rendas? Será que a velha regra não está valendo,como "se o do lado não paga e nada lhe acontece, porque eu irei pagar?"
Eu ainda queria perguntar, e talvez possas responder, quantos, qual o percentual de moradores saíu ao estalo e aos tiros para se generalizar um problema, que ainda que grave, não possa estar na verdade instalada em uma minoria que consegue jogar a merda no ventilador e espalhá-la para todo o lado?
Essa questão das drogas, em cada esquina, é tão famliar para nós, aqui em terras Brasis, em bairros onde o estado não se faz presente, e onde a minoria de traficantes e a sua estrutura assume esse espaço e cria o estigma em parte dos moradores dos bairros ricos (médios e altos) que nas favelas ou bairros suburbanos só se encontram vagabundos, e que para se resolver só jogando fogo para matar o "mal" pela raíz. E como a maioria da pobreza do Brasil ainda se encontram pessoas "não brancas", também confundem em muito os problemas sociais com questões raciais e ausência do estado.
E claro, que se tijolos, projetos de moradia, é também uma forma do estado estar presente, com toda a certeza não é só e nem o bastante.
Um abraço também para ti,
Zé Paulo

Carlos Gil disse...

(houve uma expressão, uma sigla, que terás interpretado mal e por decorrência os nºs a ela relativos: o RMG - Rend. Mínimo Garantido, que até acho que já mudou de nome e chama-se 'Subsídio de Reinserção Social ou coisa parecida mas o espírito e a razão são os mesmos- é, como agora já terás entendido não um rendimento de trabalho mas um subsídio destinado a assegurar a quem, seja pelo que for dentro do estipulado nas regras para elegibilidade, dele careça. dele, gregado familiar. portanto, a imprensa falou que 90% dos habitantes viviam dele e o meu amigo disse-me que não será tanto, "meia por meia ou, vá lá, um pouco mais". em contraponto - por caudsa do parque automóvel e do pagamento ou não pagmento das casas - é que eu fui buscar aquele primeiro nº e apliquei-o ao bairro onde vivo, mas, aqui sim e não fugirá muito disso, 90% têm ocupação remunerada. felizmente.

a preocupação estatal quando eregiu o bairro, como tentei contar, não se ficou só pelo betão, uma-casa-e-já-está. falei-te no resto, no que não há em muitos bairros que até nem são de habitação social, apenas porque há uma décalage dalgumas décadas na sua construção, então a ausência (premência?) desse tipo de preocupações. aqui aconteceram, há assistência social, há equipamentos sociais, há, enfim, não a Disneylândia ou o Moulin Rouge (é pena... é pena ali e aqui à porta, a´´ia também, é uma coisa que só agora reparei a falta que faz em cada bairro para... para... (vamos lá a ver se não me engasgo e como me safo desta...) para ajudar a minorar outro tipo de disfunsões sociais, centralizadas no seu núcleo matriz, o remanso do Lar familiara. ufa, aguenta-te assim que vi-me à rasca para, hum... para, humm. olha: para! fim de interlúdio musical e de intervalo para cigarrito e um copo de três.

das drogas. problema bicudo, sem Loures sequer existir. cá. aí ouço e leio e também terei uma ideia. há até aí a circular um filme, mas ainda bem que como não gosto de sair de casa não vou ao cinema. mas li e vi fotos do "caveirão", vejo nos telejornais - esta semana - das confusões entre carros fugitivos que levam a que o desgraçado que tenha um modelo igual e da mesma cor seja praticamente assassinado (pelo menos morre ou é forte candidato) - já agora: porque é que não se fixa uma lei em que os bandidos só podem fugir num determinado modelo e cor de carro? resolvia, ou ajudava. ironia de merda, mas é de merda a situação. para ambos os lados, sempre pior para o lado dos inocentes que se f.., f.., ia a dizer fecundam mas este verbo assim dito tira sonoridade ao final da frase, fico pelo lixam-se embora continue na minha que o outro é que era pois este é muito light. que se fecunde, siga para bingo. (mas ao tema recupero uma velha conversa: tenta ler, se ainda não o fizeste, "Capão Pecado", de Férrez)

como leste, há dois dias aqui em Hell-meirim fizeram a monda antes do tempo e apanharam, dizem, canabis sativa (esqueceram-se do L no fim, estes ignorantes do assunto :-) , bem oito quilos. oito quilos uma treta: como cá o que conta é estatísticas, vá que tenham abatido como tra os toncos e mais nada. será 7 quilos e oitocentas gramas de folha e 200 gramas de raquíticas cabeças. vou por aí, pois, por motivos que agora não são para aqui chamados nem curricularmente são relevantes, até sei, vi, cheirei e provei, o que cá se cultiva, os tristes ´frutos' que estas árvores raquíticas dão e enchem de orgulho estúpido os seus machambeiros, pois nunca viram um 'cacho' da vera, a genuína. mas pronto, são todos assim felizes, machambeiros, pisteirs e escriturários de estatísticas. deixá-los viver como gostam. claroq ue cá, city pequena mas já city, tambám há 'cavalo' e 'branquinha' a circular. excessivamente - qualquer grama dessa merda é uma grama a mais. volta não volta lá marcha um, é um fúnebre pingar com periodicidade certa. tenho n família um veterano disso (qualquer dia calham-lhe a ele as exéquias, é chato diz~e-lo mas a postura é mesmo de candidato). sei lá quantas desintoxicações, internamentos em comunidades, aqui e em França, volta oa mesmo. ele mora em Santarém que é uma cidade a 8 kms daqui mas umas 8 vezes maior. a capital do distrito. e ele compra-a lá... a revendedores que vão comprá-la a 80 kms de distância: a Grande Lisboa. quem quer investir para pelo menos o seu consumo sair à borla e ainda ganhar uns trocados, vai comprar à periferia de Lisboa e depois revende lá, Santarém, o círculo vai-se completando com os daqui a irem lá comprar e os das aldeias aqui em volta a virem cá abastecerem-se.
a tal periferia "maldita" está minada, é mercado grossita, é retalhista, é um supermercado já com tantas "lojas" estabelecidas, "grandes superfícies comerciais" que, por muito que se fidelizem clientes com promoções ou créditos, rifas e coisa e tal, a verdade é que ali vê-se o que parodialmente se poderá chamar de "o lado selvagem do capitalismo selvagem": briga-se por mercado, território, clientes.

que terá sido o que esteve na génese daquilo. quem manda, ou seja quem tem os direitos exclusivos de venda. com uma ou outra 'banhada' pelo meio a picar ainda mais, mas é um conflito de gangs, não de minorcas vendedores de x doses para 'ganharem o dia' mas dos abastecedores, os "grossistas". aqui, Loures, a disputa tem cores, "etnias" como se diz na linguagem de quem tem medo de se compremeter e pesa todas as palavras quando se trata dum assunto 'delicado' e nada de acordo com as ortodoxias assumidas e nunca despedidas, sequer actualizadas a um mundo que já não é igual ao tal do John Wayne, e duvido que alguma vez volte a sê-lo. ali, Loures, Qtª do Conde, há um gang poderoso de negros que, por maioritarios entende ser seu território exclusivo, e outro de ciganos que, por tradição no negócio e proverbiais maus fígados quando se trata de disputas, não aceitam que a sua menoridade numérica a faça perder as rédeas do negócio. e, como sempre, - se duvidas esquece, pois cá vivendo rapidamente irias perceber que é mesmo assim, - fortemente armados. aliás esse é o outro negócio que gerem (falo de negócio de gangs, nada de extrapolações para o inocente - comparativamente - negócio de roupa contrafeita, etc etc. eu também lá compro t-shirts Nike e polos Lacoste a 1/4 do preço), se quiseres comprar uma arma em Pt sem passar pelas infindáveis burocracias e com um óptimo desconto, a forma de contacto mais eficiente é... junto dum cigano com que tenhas relações, que ele tem sempre "um primo que" etc, etc.

bem, é domingo. chega de 'secas' e de assuntos de mau gosto. não está Sol mas o enevoado também não é desencorajador de ir até ao jardim. aproveitar que em Hell-meirim não é a Grande Lisboa, vantagens da província. embora a gricultura esteja em crise ;-)

abraço e até um dia destes.

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Carlos,

Ok, coloquei os "90%" no bairro errado. Talvez esteja então nos 50%, um pouco mais, um pouco menos, mas não mudará substancialmente o que coloquei anteriormente.
E o que aqui agregas de informações, ou reforças, só me faz também reforçar que a presença do estado, além de um desenho de projeto, de um pavilhão e até de uma "assistência social", passa pela execução das leis, onde, por exemplo, quem compra e quem vende uma arma de forma ilegal, seja através de um amigo cigano ou alemão, sejam ambos (comprador e vendedor) penalizados. Que a disputa dos pontos comerciais, por manias de maioria ou por tempo de território,sejam penalizados.
E ainda fico na esperança que busques a informação e que me passes, mesmo que não gostes de estatísticas - eu também não gosto de muitas delas, mas outras são esenciais para se entender algo - qual a participação, em relação ao moradores, dos que saíram ao tiro.
Bom resto de domingo e boa semana.

Zé Paulo

Carlos Gil disse...

realmente isso passou-me lá no meio de tanto.
mas nem procuro: certamente o que encontraria são as refªs que vieram nos medias, que ao que me lembre eram coincidentes no nº: um total de 50 "pistoleiros". sei lá se half-and-half ou quais ou é que eram mais. o que é veradde é que 50, deve ter sido realmente uma rica fuzilaria... :-(
infelizmente aí (Rio) seria um nº no meio doutros. mas aqui, ao que me recorde e não estou errado de certeza, foi o primeiro confronto com tal nº de canhangulos em acção, simultâneamente. em pleno dia, numa cidade (Loures) que por sua vez é parte da metrópole-Lisboa. que, recordo pois essa é logo a preocupação que aflora, está rodeada por 'n' situações também potencialmente explosivas.
quanto ao 'cumprir a Lei' e por exemplo despejar os relapsos no pagamento, atento o tipo de bairrue é e as carências a todos os níveis dos seues habitantes (n falo só das económicas, são as mínimas a começar: as de relacionamento social, culturais)não acredito que o senhorio-Estado o faça pois, se 'ali' resolvia o problema (provisoriamente? a nova vaga de inquilinos seriam e teriam comportamento diferente?), abria-a noutro lado, numa infinidade de outros lugares. para onde iriam viver? se, com estas condições e que ultrapassam bem as que se podem chamar de mínimas, a integração e bom funcionamento social não aconteceu e a criminalidade floresceu, que seria se fossem 'despejados' sem alternativa? os que não a têm? bicudo...
vou xonar. acabou o fds. abração. e tenta arranjar o Férrez, insisto...

Carlos Gil disse...

ah! estava a reler e dei como uma falha de pormenor logo na minha proimeira intervenção. mero pormenor mas que dá ideia do valor do dinheiro, cá: 5 euros não pagam 3 maços de tabaco. não chegam para 2 maços (que actualmente vão dum mínimo de 2,95 até 3 e muito, euros).
2 maços pagavam a renda dum mês e ainda havia troco para um mínimo de duas bicas :-(

(agora é que vou mesmo. xau)

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Carlos,

Mesmo no Rio, 50 de uma vez só ao tiro, seria algo bem acima da média. A informação que eu tinha, até era de um número de pessoas menor.
Ainda assim, o que posso afirmar, sem medo de errar, é que esses 50 são a minoria em relação aos moradores de Loures, tanto entre os ciganos como entre os negros.
E juntando um pouco das informações que colocas e que já por aí li, a cowboyada parece mesmo estar mais relacionada com a demarcação territorial para administração de negócios um tanto obscuros. E é isso, antes de tudo, que deve ser combatido. E isso não tem nada a haver com questões raciais. Do contrário este conflito envolveria muito mais do que essa minoria de cowboys europeus.
Já a questão dos alugueis, não se consegue cobrar só despejando, embora também se possa fazer necessário. Mas se há leis para se cumprir, há também que haver bom senso. O que não pode haver é passividade da justiça, nem paternalismos.
Pelo que dá para perceber, Portugal está entrando em uma fase perigosa onde a máfia dos grandes traficantes se estruturam em cima da pobreza, e dos pobres de espírito, para organizarem a sua rede de distribuição, e os grupos que querems e consolidar no espaço começam a guerrear entre si.
Racismo? Tratem isso como racismo que de um problema virtual vão criar um problema real e do problema real não vão resolver nada, e o tal 4o. lugar do país europeu com menor índice de criminalidade, logo, logo vão ver cair o ranking.
Um abraço, e tempos mais calmos.
Zé Paulo

Carlos Gil disse...

além de ter sido coisa recente e constante nos media, como imaginarás - a minha memória ainda não está muito má. ora cusca aqui (só olhei para as entradas e os nºs, não abri nenhum link: eu não tenho dúvidas ou sou masoquista para repetir a overdose sobre o que ocorreu):

http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&cr=countryPT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=tiroteio+Loures+-+n%C3%BAmero+de+envolvidos&spell=1

abraço

Carlos Gil disse...

falta ali uma vírgula para deixar bem claro:

eu não tenho dúvidas nem sou masoquista , sobre o que ocorreu.

capice?
;-)

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Carlos,
Eu tenho a certeza que não és massoquista. MAs não tenho a certeza se queres aqui confirmar que foram aproximadamente 50 os envolvidos, e com isso confirmares que é uma minoria em relação aos moradores de Loures, ou se queres aqui mostrar uma das versões do que motivou o tiroteio...
...e se estás conseguindo sair da parcialidade com que se noticiam os factos.
Um casal "de ciganos" sai ao sopapo, um pequeno grupo "de negros" reage, o bêbado agressor e amigos armam-se para defenderem a honra machista e declara-se ao mundo que temos um problema racial.
E depois, no dia seguinte, 50 individuos (um pouco mais, um pouco menos, quem sabe?)organizam-se para brincarem aos cowboys, e quando a polícia chega, ficam todos calminhos...
Os problemass do comércio obscuro (ilicito) e o comando do território, conhecido na região, nem mesmo é levantado. Fica tuddo porque um pequeno grupo de racistas negros defendeu uma mulher cigana racista de um marido agressor cigano racista.
Desculpa a brincadeira, meu chamuar Carlos, mas como por aqui se diz, acho que o buraco é mais em baixo.
Um forte abraço.
Zé Paulo