sábado, 26 de julho de 2008

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço...


Lendo o Carlos Serra, do Diário de um sociólogo, decido que ao sair aqui do escritório, que vim hoje só para dar uma espiada e ver como tudo está, vou a uma livraria para comprar “A cabeça do brasileiro” do antropólogo Alberto Carlos Almeida, na sua 4a. edição, e ainda fora das minhas prateleiras.
De qualquer forma já me arrisco aqui, em cima do que li do Carlos Serra e do que o mesmo nos indicou ler sobre o livro, a tecer alguns comentários.
A pesquisa é feita em cima do que pensam as pessoas, e não como agem as pessoas, e isso é deixado claro quando apresentado o formato do trabalho dos envolvidos no projeto.
Parece que conclui o autor do livro, com ressonância do Carlos Serra, que o lado moderno se manifesta mais claramente na população brasileira com maior formação acadêmica.
Não discordo disso, até porque em um país como o Brasil, onde a desigualdade social é tão absurdamente grande, e sabemos que quanto maior o grupo de maior formação acadêmica se conversar, maior as chances de se estar a conversar com pessoas de mais posses financeiras, e com isso além de maiores informações via ferramenta “acadêmicas”, muitas outras vias de informações e atualizações junto ao mundo este grupo tem a mais do que um grupo menos favorecido “sócio-econômicamente” falando.
No entanto quem tem mais informação poderá estar bem mais “treinado” a dar uma boa resposta do que uma pessoa não tão treinada, mas estas últimas com as suas respostas não tão distantes entre o que pensa e o que faz.
Claro que temos aqui diferenças entre Brasil e Moçambique. Não quero comparar estatisticamente os casos de linchamento, por exemplo, entre os dois países, mas vou usar como referência a questão da corrupção.
Quando se pergunta a alguém se “você passaria uma conversa em um guarda para não ser multado”, há que se acreditar que uma pessoa bem informada, no Brasil, vá dizer que é este um ato de corrupção. Mas até achar que a maioria deste mesmo grupo de bem informados não vá tentar passar a conversa no guarda, vai aí uma grande distância.
A corrupção é uma doença neste país, e em qualquer país onde as diferenças sociais sejam grandes e as leis não são executadas a contento, e isso dentro dos grupos de nível de formação acadêmica boa ou não, a corrupção reina.
Aqui, no Brasil, se tenta pagar uma cervejinha para o guarda para não se levar uma multa, e pode ser o corruptor um simples operário ou mesmo um mega-empresário, ou se tenta pagar 1 milhão de dólares para um delegado da Polícia Federal para não ser investigado em um escândalo de um crime financeiro, caso de um recente e renomado e muito bem formado, o banqueiro Daniel Dantas, e neste caso não dá mesmo para ser um simples operário, sem formação acadêmica.
Me parece que a pesquisa que dá conteúdo ao livro do Alberto Carlos Almeida é interessante sobre o prisma da atitude das pessoas, o que não se pode deixar de lado estarem elas, as pessoas, mais ou menos propensas a um acto, mas não me parece que demonstre a realidade de um ambiente que induz uma população a agir com regras dos tempos das cavernas em plena Avenida Paulista, centro financeiro do país, localizado na cidade de São Paulo.

Adenda: Falando em São Paulo, quando soube da visita do Carlos Serra ao Brasil, e que ficou por uns dias nesta cidade, fiquei inclinado a tentar um contato com o mesmo para sair aqui de Curitiba e ir o conhecer. Mas o desenrolar dos dias acabou por me fazer acompanhar a sua visita ao Brasil apenas pelo seu blogue.
Fonte da imagem: Diário de um sociólogo

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