terça-feira, 26 de junho de 2007

"O racismo e discriminação no nosso vocabulário...


Crónica de António Maria G. Lemos

Fico espantado todas as vezes com as diversas formas de discriminação que lemos diariamente, que mostram que por mais que tenhamos tido melhor instrução que os nossos antepassados, continuam entranhadas na nossa sociedade.
Sejam elas de conteúdo racial, religioso ou social, ao invés de diminuírem, propagam-se neste mundo mesquinho-medial dos proeminentes sazonais e profissionais sem consciência laboral.

Me senti chocado ao ler que no bairro de classe média(para alta), do Rio de Janeiro, agrediram uma mulher sem motivos nenhuns. A mesma conseguiu-se refugiar a tempo no edifício onde trabalha. (Notícia divulgada em vários jornais brasileiros)

Graças á coragem e civismo de um senhor que do seu táxi observou o acto de violência e o denunciou, alguns dos agressores já foram detidos. Um deles, de 20 anos, imaginem vocês é estudante de direito. Salvem o oratório !!

Os 'filhinhos de papai', acharam que a senhora Sirlei era 'vagabunda' . Como se posição social ou profissão exercida por uma pessoa bastasse e legitimasse a ação em si (ser agredida e roubada) .

Mas se analisarmos bem esta situação veremos que esta atitude de 'cabeça raspada', versão “canarinha” do nazismo, em muito se deve aos costumes centenários da sociedade brasileira. Onde os empregos de baixa qualificação de estudos escolares - mesmo que exijam muita experiência para ser exercidos corretamente - são por todos nós desgnificados. Até mesmo por aqueles que exercem tais profissões.

É a terra dos cartões de visita onde a relevância dos fatos e atitudes são pesados de acordo com os títulos impressos nos cartões, e que estabelecerá o cumprimento, ou não, de algumas das leis existentes.

O que me chamou atenção neste artigo foi o próprio titulo em si, usado por vários órgãos de imprensa nacional, '...suspeitos de agredir doméstica é preso'.
Como assim 'doméstica' ?! Se fosse um desconhecido doutor seria o titulo, 'doutor foi agredido'?
Qual o peso e a relevância da posição profissional da vítima na divulgação desta notícia, que a meu ver foi um assalto com uso de violência, e como tal deveria ter sido divulgado e recriminado?

Onde fica a responsabilidade da imprensa no combate aos estigmas e discriminações sociais?

Se a senhora Sirley é uma daquelas profissionais que a nossa sociedade em muitos lugares teima ainda em as obrigar a entrar pelo elevador de serviço, aí a notícia e o tema seria outro, e aÎ sim, fizesse senso mencionar a profissão dela no titulo do artigo.

Infelizmente a sociedade como um todo tem culpa na forma como nos referimos às minorias ou às pessoas marginalizadas sem terem cometido nenhum crime.

A imprensa e os livros pedagógicos impressos ano após ano, sem uma revisão e atualização de vocabulário, só reforçam e propagam esses estigmas sociais de longa data.

As crianças, jovens e estudantes universitários dos nossos países - seja no Brasil, Portugal ou países luso-africanos - crescem aprendendo o que o mundo civilizado já sabe ser errado. No entanto nada, ou muito pouco se faz para se mudar esta postura.
As palavras doméstica, doutor e patrão na forma que são usadas, são só alguns desses resquícios do nosso passado, ainda bem presentes na visão laboral de sociedades retrógradas. Outras palavras haverá que estão diretamente ligadas às diferenças raciais e religiosas e que tal como no passado fazem parte do nosso dia-a-dia atual.

Na Suíça onde vivo, há muito que não se usa os títulos das pessoas, seja na forma escrita ou falada. 'Exmo. Sr. Doutor ' por exemplo é algo que aqui faria o pessoal soltar fortes gargalhadas se lessem tal disparate numa carta. Se sentiriam transportados para o mundo dos seus avós. As poucas exceções, onde alguns títulos ainda se usam acontecem somente na escrita em termos jurídicos e políticos, e só entre eles. Pois o cidadão normal quando escreve uma carta ao Juiz só necessita de iniciar a carta como iniciaria para qualquer pessoa que não lhe fosse próxima,independentemente da profissão do receptor da mesma.

Mostrando que as profissões ganham o mesmo respeito e importância laboral e social. (Afinal todos sabemos que a casa só ficará de pé devido ao trabalho, profissionalismo e empenho de todos os profissionais envolvidos na obra. )
Com isso não quero dizer que aqui não haja racismo, porque além de ser outro tipo de discriminação, claro que aqui também há. Mas a imprensa e a educação, através das diretrizes dos ministérios de educação e comunicação assumem e promovem, em prol daqueles que ao contrário de nós sofrem sob o jugo do nosso vocabulário, uma posição de respeito e igualdade entre as várias categorias profissionais. Que a meu ver, nada mais é do que um dever a ser cumprido por todos os países.

Tomar consciência desse linguajar e fazer algo contra, (evitando fazer uso do mesmo), não é tão fácil como se possa imaginar pois faz parte do aprendizado do nosso idioma.
No entanto é sem dúvida um pequeno passo na direção certa, que todos nós como indivíduos temos que dar em favor das gerações futuras.

2 comentários:

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Mano! É mesmo por aí, embora a termologia usada pela imprensa brasileira, me parece, está muito mais ligada ao que é a sociedade deste nosso querido país do que está para a influência para esta sociedade. Mas concordo que por ela deveria começar a haver mudanças.

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Esqueci...lê (leiam a noticia triste no link a seguir: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL59396-5604,00.html#frmPost