Por António Maria G. Lemos - em 18.04.08
Faz alguns dias que um navio cargueiro chinês está tentando atracar no porto de Durban, (África.do Sul) sem conseguir.
Motivo: Está carregado com toneladas de armamento para o Zimbawe. Metralhadoras, bazucas, granadas, minas de todos os tipos, etc. ... e os sindicatos dos estivadores sul africanos com mais de 30 000 operários registrados, assim como o sindicato da Polícia, se negam a descarregar o navio e carregar os trens, e dar a segurança para o transporte que deve seguir para o Zimbawe.
Ambos sindicatos se negam a ajudar o governo do Zimbawe a gastar o dinheiro público em armas, num país onde a inflação de mais 300% por semana e taxa de desemprego de 70%, as prioridades de um governo justo deveriam ser outras. Nobre decisão vinda da base da população sul africana que mostra muito mais bom senso que o seu governo, que na pessoa do senhor Mbeki continua dizendo na TV ; " Não sei o que é que está sendo comercializado entre esses dois Estados independentes" (?!)
Não vamos esquecer que a China é o maior parceiro comercial da África do Sul.
Apesar dos USA e a Comunidade Européia, desde alguns anos que boicotam a vendas de armas para o Zimbawe, a China que massacra não só os Tibetanos, continua sendo a maior aliada de Mugabe.... não só na área das infra-estruturas e ajuda alimentícia, como o governo prepotente da China costuma pregar ao Mundo. Se alguma dúvida alguém tinha, agora essas toneladas boiando às margens de Durban, deixam claro as bases de "ajuda" que existem entre esses dois estados.
Não vamos esquecer que essas armas não são oferta da casa, elas serão pagas com a segunda maior reserva de platina do mundo, que os chineses estão sacando do Zimbawe na calada da noite há muitos anos.
O povo sul-africano se pergunta por que será que Mugabe precisa de tantas armas? Para atacar vizinhos ou para usar contra o seu próprio povo esfomeado e sedento por atravessar as fronteiras para os países vizinhos, em busca de segurança e emprego? Quem será o alvo final?
Por quanto tempo mais os governos vizinhos do Zimbawe vão fingir não ver a catástrofe humana à porta de casa?
Por quanto tempo mais, os governos vizinhos vão querer continuar cuspindo para cima? Diz a lei da gravidade, que a bisga não ficará suspensa no ar.
Talvez quando milhares de pessoas começarem a arrombarem a porta, atravessando as fronteiras com a trouxa e cuia na cabeça, enchendo as regiões fronteiriças de exilados com fome, é que esses governos coniventes com Mugabe perceberão que não têm a menor infra-estrutura para receber essa massa humana.
E aí o que farão os governos da Zâmbia, África do Sul e Moçambique? Colocarão velhos e crianças na cadeia como ilegais? Ou devolverão à força essas almas à ditadura de Mugabe? Nos moldes feitos com os judeus da segunda guerra mundial?
Espero que quando esse dia chegar, pois se nada se fizer contra, esses dias já se podem contar, que a lucidez política e o respeito pelos mais elementares direitos humanos prevaleçam.
A minha solidariedade para com os valores de ética e de humanidade, que deveriam estar sempre acima dos interesses financeiros, e que os povos do Zimbawe e Tibet também merecem.
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Adenda: Hoje, 19.04, o navio Na Yue Jiang já zarpou de Durban e a ONG do Zimbabué, Projeto Paz, alerta que o mesmo poderá atracar em algum porto de Moçambique para ali fazer o transbordo para transporte terrestre para levarem então as armar até Mugabe.
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Indica-se a leitura: aqui, no Canal de Moçambique
Um comentário:
Mano Tó,
Um dos textos mais completos sobre o problema que se atravessa no Zimbabwe envolvendo o capítulo do navio chinês.
Um abraço.
Zé Paulo
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